segunda-feira, 14 de maio de 2012

Cuidados de Deus


 
O hábito de reclamar é muito difundido.
Em toda parte, as criaturas reclamam.
Filhos em relação aos pais, cônjuges entre si, patrões e empregados, vizinhos, amigos e meros conhecidos.
Reclamões não faltam.
Já pessoas genuinamente gratas são um tanto raras.
Quem presta atenção no que falta costuma não notar o que tem.
Esse mau hábito é especialmente triste em se tratando da Divindade.
Porque Deus é o Senhor do Universo.
Dele procedem todas as bênçãos e oportunidades.
Ele cria todos os Espíritos e lhes viabiliza existências incontáveis a fim de que se aprimorem.
Cerca-os dos mais ternos cuidados.
Providencia-lhes corpos, vidas e amores.
Inclusive cuida de boicotar seus desatinos mais graves, para que não se compliquem em excesso.
Entretanto, curiosamente, os homens ainda se sentem no direito de reclamar do Eterno.
Imaginam ter direito a mais do que recebem.
Desejam tranquilidade, riqueza, poder, fama e beleza.
Contudo, nesse querer fantasioso, esquecem-se de notar e agradecer o muito que recebem.
Olvidam a bênção dos tempos de paz, nos quais podem perseguir seus sonhos.
Não valorizam a família na qual nasceram.
Os pais que lhes cercaram os primeiros passos de cuidados.
As escolas nas quais foram matriculados.
Os professores que os instruíram.
A saúde do corpo, a existência em um país pacífico, os amigos...
Acham natural possuir tantos tesouros.
Ocorre que nem todos podem desfrutar simultaneamente dos mesmos dons.
A vida na Terra constitui uma estação de aprendizado.
Nela, as experiências variam ao Infinito.
Há os que experienciam a saúde, enquanto outros vivem a enfermidade.
Os com facilidades materiais e os de vida mais modesta.
As posições se alternam no curso dos séculos.
O papel de cada homem é ser digno e fraterno na posição em que se encontra.
Utilizar os tesouros que recebeu da vida, a fim de crescer em talentos e virtudes.
E, especialmente, entender que o próximo é um irmão de caminhada.
Ele também deseja ser feliz e viver em paz.
É igualmente um filho de Deus.
Tendo isso em mente, urge repensar os próprios hábitos.
Identificar os inúmeros cuidados recebidos de Deus.
Ser grato por todos eles e cessar de reclamar por bobagens.
Quanto à gratidão, ela tem uma forma muito especial de se manifestar.
Consiste no amparo ao semelhante em estado de sofrimento ou abandono.
A bondade para com o próximo é uma forma de gratidão que o homem pode oferecer ao seu Criador.
Pense nisso.
Redação do Momento Espírita.
Em 14.05.2012.

sábado, 12 de maio de 2012

Carta a minha mãe


 
Mãe, quando eu comecei a escrever esta carta, usei a pena do carinho, molhada na tinta rubra do coração ferido pela saudade.
As notícias, arrumadas como pérolas em um fio precioso, começaram a saltar de lugar, atropelando o ritmo das minhas lembranças.
Vi-me criança orientada pela sua paciência. As suas mãos seguras, que me ajudaram a caminhar.
E todas as recordações, como um caleidoscópio mental, umedeceram com as lágrimas que verteram dos meus olhos tristes.
Assumiu forma, no pensamento voador, a irmã que implicava comigo.
Quantas teimas com ela. Pelo mesmo brinquedo, pelo lugar na balança, por quem entraria primeiro na piscina.
Parece-me ouvir o riso dela, infantil, estridente. E você, lecionando calma, tolerância.
Na hora do lanche, para a lição da honestidade, você dava a faca ora a um, ora a outro, para repartir o pão e o bolo.
Quantas vezes seu olhar me alcançou, dizendo-me, sem palavras, da fatia em excesso por mim escolhida.
As lições da escola, feitas sob sua supervisão, as idas ao cinema, a pipoca, o refri.
Quantas lembranças, mãe querida!
Dos dias da adolescência, do desejar alçar voos de liberdade antes de ter asas emplumadas.
Dos dias da juventude que idealizavam anseios muito além do que você, lutadora solitária, poderia me oferecer.
Lágrimas de frustração que você enxugou. Lágrimas de dor, de mágoa que você limpou, alisando-me as faces.
Quantas vezes ouço sua voz repetindo, uma vez mais:
Tudo tem seu tempo, sua hora! Aguarde! Treine paciência!
E de outras vezes:
Cada dia é oportunidade diferente. Tudo que você tem é dádiva de Deus, que não deve desprezar.
A migalha que você despreza pode ser riqueza em prato alheio. O dia que você perde na ociosidade é tesouro jogado fora, que não retorna.
Lições e lições.
A casa formosa, entre os tamarindeiros assomou na minha emoção.
Voltei aos caminhos percorridos para invadi-la novamente, como se eu fosse alguém expulso do paraíso, retornando de repente.
Mãe, chegou um momento em que a carta me penetrou de tal forma, que eu já não sabia se a escrevera.
E porque ela falava no meu coração dorido, voei, vencendo a distância.
E vim, eu mesmo, a fim de que você veja e ouça as notícias vibrando em mim.
Mãe, aqui estou. Eu sou a carta viva que ia escrever e remeter a você.
*   *   *
Entre as quadras da vida e as atividades que o mundo o envolve, reserve um tempo para essa especial criatura chamada mãe.
Não a esqueça. Escreva, telefone, mande uma flor, um mimo.
Pense quantas vezes, em sua vida, ela o surpreendeu dessa forma.
E não deixe de abraçá-la, acarinhá-la, confortar-lhe o coração.
Você, com certeza, será sempre para ela, o melhor e mais caro presente.
 
Redação do Momento Espírita, com frases do cap. XVI do livro
Pássaros livres, pelo Espírito Rabindranath Tagore,
psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.
Disponível no CD Momento Espírita v.18, ed. Fep.
Em 04.05.2011.
 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Convite especial


 
Em famosa passagem do Evangelho, Jesus fez um convite muito especial.
Afirmou que quem desejasse ir após Ele deveria renunciar a si mesmo, tomar sua cruz e segui-lO.
Esta afirmação é extraordinariamente rica, como ocorre em tudo o que procede do Cristo.
Nela, o aspecto da renúncia pessoal não é o menos interessante.
O serviço da própria sublimação não costuma ser compatível com a satisfação de todos os caprichos do coração.
Quem deseja viver o bem, necessariamente precisa se afastar um pouco do bulício mundano.
Não se trata de afastamento físico.
Afinal, a virtude não pode ser uma flor de estufa, que não resiste à prova da realidade da vida.
Esse afastamento é, num sentido muito específico, de não se deixar contaminar pelas loucuras e paixões correntes.
A responsabilidade é muito variável entre as criaturas.
Quem há pouco saiu da infância espiritual possui menores recursos de sublimação.
É, até certo ponto, compreensível que se empolgue com o discurso mundano.
Falta-lhe discernimento para compreender o que de fato lhe convém.
Contudo, a situação é bem diferente em relação às almas já tocadas pela mensagem cristã.
Para essas, grave é a responsabilidade.
Caso optem por viver a ardência dos sentidos, em detrimento dos valores eternos, complicam-se de modo muito importante.
Não se trata de um Deus punitivo a lhes cobrar contas.
O problema reside na consciência desperta e lúcida.
Por saber o que era possível fazer, a própria criatura se afunda no arrependimento.
Se pôs a perder santas oportunidades, é com dificuldade que se justifica perante si mesma.
Por isso, o caminho da redenção pressupõe renúncia.
Renúncia às banalidades que tomam tempo.
Renúncia às baixezas tão em voga.
Renúncia à maledicência, à pornografia, às vantagens indevidas, à preguiça e ao ócio.
A alma enamorada do ideal cristão tem em si uma urgência do bem.
Tal não significa que viva enlouquecida no afã de muito fazer.
Ela goza de uma paz especial, feita de serviço e de retidão.
Trabalha porque sabe o valor do tempo.
Mas entende que o resultado sempre pertence ao Senhor da vida.
Seu foco reside em ser digna, útil e bondosa.
Para atingir esse estado, dispõe-se a vários sacrifícios.
Abdica de ter razão para viabilizar a paz.
Abre mão de seu conforto para confortar o próximo.
Tudo porque seu coração foi tocado pelo convite do Senhor.
Ela realmente deseja segui-lO.
Por isso, encontra forças para fazer as renúncias necessárias.
Pense a respeito.
Redação do Momento Espírita.
Em 03.05.2012.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Vencedores


Quando se contam histórias de triunfadores, de pessoas que venceram óbices e alcançaram seus sonhos, a reação de muitos é de incredulidade.
Ou, então, se ouvem expressões como: Bom, mas esse é um caso em mil... ou milhão.
No entanto, cada vez mais se apontam exemplos de tenacidade, de esforço hercúleo, de criaturas que superaram todas as expectativas.
E era justamente por esse motivo que aquele caminhoneiro, sentado na plateia, chorava sem parar.
Ele estava acostumado a viajar pelas estradas deste imenso país. Semanas e semanas longe do aconchego do lar, vencendo os quilômetros, entregando preciosas cargas, em obediência a prazos apertados.
Um trabalho solitário, na boleia do seu caminhão, dirigindo horas a fio. Vez ou outra, uma buzina amiga lhe diz que outro solitário motorista se encontra, também, vencendo a estrada, quilômetro a quilômetro.
Um acenar de mãos, um sorriso. Depois, o retorno à monotonia do asfalto.
Sol, chuva, frio, calor, lá está o senhor Renê Martins no seu mister.
Naquele final do ano de 2009, ele apertava a mão da esposa, dona de casa, ao seu lado, igualmente emocionada e procurava entender como seu filho chegara tão longe.
Seu filho, um belo rapaz de vinte e sete anos, Wallace, ali estava para receber um prêmio internacional em um Congresso sobre Processamento de Sinais.
Nascido e criado numa zona de guerra do Rio de Janeiro, o Complexo do Alemão, Wallace já fora o centro das atenções na formatura da turma da Faculdade de Engenharia Eletrônica e da Computação, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Cursando o doutorado, ele mostrou ser possível usar pequenos artifícios para aumentar a quantidade de dados transmitidos por TV digital e banda larga móvel.
O filho de um caminhoneiro e uma dona de casa, nascido em local de intranquilidade e, para muitos, símbolo de desordem e criminalidade.
Mais um vencedor. Mais um exemplo a ser seguido. Em tempos em que tanto se fala a respeito de jovens envolvidos com drogas, com festas rave e outras loucuras, alguém que demonstra o valor da vontade.
Quando se ouve que quem não tem apadrinhamento no mundo não vence, é bom conhecer a história de Wallace que, à semelhança de outros tantos, venceu por seu esforço, por sua dedicação aos estudos.
E diz, através do seu exemplo, a todos os jovens como ele próprio, ou aos adolescentes que se preparam para o ingresso universitário, que não importam raízes, quando se perseguem metas com tenacidade.
Demonstra que o mundo bom pelo qual anelamos vai se alicerçando, a pouco e pouco, embora, na face da Terra.
Exemplifica que, quando se vão colher louros, não se deve esquecer dos que nos ofertaram o corpo físico, nos alimentaram e conosco sonharam: nossos pais.
Finalmente, de que é o Espírito imortal que define diretrizes e pode, energicamente, suplantar óbices, afastar pedregulhos e conquistar sonhos.
Pode-se, enfim, tocar as estrelas e conquistar a lua.
Pensemos nisso.
 
Redação do Momento Espírita, com base em fato, narrado por
Carlos Rydlewski, em
Seleções Reader´s Digest, de junho de 2010.
Em 02.05.2012.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Verdadeira compaixão


 Quando resolveu contar histórias para crianças em hospitais, como voluntário da associação Viva e deixe viver, aquele desembargador teve de superar a si mesmo.
No dia escolhido para seu turno, na ala de queimados de um grande hospital de São Paulo, ele colocou seu nariz de palhaço, ajeitou seu avental colorido e enfrentou a forte visão das crianças com queimaduras.
Foi um grande choque. Porém, em poucos minutos, ele já estava solto.
Sabia que sua maneira de exercitar a compaixão ali era dar alegria a quem estava mergulhado no sofrimento.
O que ele não podia, naquele momento, era sentir dó, piedade, peninha. Por isso riu e arrancou muitos sorrisos, com as histórias que contou.
Foi um verdadeiro sucesso. Quando estava quase saindo, sentiu um puxão no seu avental. Era um menino de uns cinco anos, com o rosto quase totalmente envolto por bandagens e esparadrapos.
O garoto fez um sinal para o desembargador se inclinar e disse bem baixinho no seu ouvido: Tio, pode não parecer, mas eu estou rindo...
Aí não teve jeito, algo se desmanchouem seu coração. Percebeu que ele se tornou mais terno, mais terno, e perdeu um pouco sua carapaça habitual de dureza.
Como não preenchê-lo de amor por aquela criança vivendo condições tão difíceis?
*   *   *
O sentimento da compaixão é mesmo um transbordamento amoroso. Como as lágrimas, que rolam dos olhos por causa da emoção, ela transborda diretamente do coração, só que em direção ao mundo.
Quando sentimos pena, olhamos de cima para baixo, evitando o envolvimento com a situação ou com o outro.
Quando vivemos a compaixão, olhamos de lado, de dentro e nos sentimos responsáveis, comprometidos com o outro.
A verdadeira compaixão tem por base o raciocínio de que todo ser humano tem o desejo inato de ser feliz e de superar o sofrimento, exatamente como nós.                    
E, exatamente como nós, o outro tem o direito de realizar essa aspiração fundamental.
O filósofo André Comte Sponville esclarece que compartilhar o sofrimento do outro não é aprová-lo nem compartilhar suas razões, boas ou más, para sofrer.
É recusar-se a considerar um sofrimento, qualquer que seja, como um fato indiferente. E um ser vivo, qualquer que seja, como coisa.
Os grandes missionários da Terra, aqueles que se dedicaram ao próximo de forma intensa, foram grandes exemplos dessa compaixão, pois não cederam à indiferença.
Não suportaram ver o sofrimento alheio sem fazer nada a respeito e se atiraram a tarefas grandiosas de abnegação e coragem pelo mundo.
A compaixão é dinâmica, atuante e vibrante.
Eis mais uma virtude que podemos aprender. Mais um tesouro escondido na alma que precisa ser descoberto.
*   *   *   
Deixai que o vosso coração se enterneça ante o espetáculo das misérias e dos sofrimentos dos vossos semelhantes.
Vossas lágrimas são um bálsamo que lhes derramais nas feridas e, quando, por bondosa simpatia, chegais a lhes proporcionar a esperança e a resignação, que encanto não experimentais!
   
 Redação do Momento Espírita, com base em matéria de autoria de Liane Alves, da revista Vida simples, de novembro de 2007 e no cap. Compaixão, do livro Pequeno tratado das grandes virtudes, de André Comte Sponville, ed. Martins Fontes.
Em 25.04.2012.

A Balsa

Na História da Humanidade encontramos acontecimentos que nos levam a profundas reflexões.
Em 1816, uma fragata francesa encalhou próxima à costa do Marrocos. Não havia número suficiente de botes salva-vidas. Os restos do navio foram a única balsa que manteve vivas cento e quarenta e nove pessoas.
A tempestade as arrastou ao mar aberto por mais de vinte e sete dias sem rumo.
A dramática experiência dos sobreviventes impressionou a um artista. Theodoro Gericault realizou um estudo substancial dos detalhes para produzir a pintura.
Ele entrevistou os sobreviventes, os enfermos e, inclusive, viu os mortos. Horrorizado, reproduziu a íntima realidade humana nessa situação.
Seu quadro, intitulado A balsa de Medusa, retrata não somente o naufrágio do navio A Medusa, ocorrido no dia dois de julho de 1816, mas um acontecimento que comoveu a França e trouxe repercussões que tocaram o mais profundo da alma humana.
Na pintura, pode-se ver as diferentes atitudes humanas que se manifestam nos momentos cruciais da vida.
Alguns dos sobreviventes se apresentam deitados, em total abandono, sem reação alguma. Parecem simplesmente aguardar a morte inevitável.
Outros se mostram desesperançados, alheios aos demais. O olhar distante, perdido no vazio, demonstra que perderam a vontade de viver e de lutar.
Um punhado deles, no entanto, mantém a esperança acima de tudo. Tiram do corpo as próprias camisas e as agitam com força, fixando um ponto no horizonte, como se desejassem ser vistos por alguma embarcação, por alguém.
O curioso, entretanto, é que embora eles estejam balançando as vestes brancas, não há nenhum navio à vista. Nada que indique que eles serão resgatados.
*   *   *
A balsa é como o planeta Terra. Os tripulantes são a Humanidade e as atitudes que cada um toma diante da vida.
Podemos ser como os desesperançados, quando atravessamos situações difíceis e nos decidimos a simplesmente nos entregar sem luta alguma.
Podemos estar enquadrados entre aqueles que acreditam que não há solução e, assim, também não há porque se esforçar para melhorar o estado de coisas.
Podemos também ser os que duvidamos de tudo e de todos. Ou, finalmente, ser aqueles que mantemos a esperança acima de tudo, esforçando-nos para chegar à vitória, embora ela pareça estar muito, muito distante.
Afinal, decidir pela vitória em toda circunstância que a vida nos coloca é atitude de esperança.
*   *   *
Quando os problemas se multiplicam no norte da vida e os desafios ameaçam pelo sul, as dificuldades surgem pelo leste e os perigos se multiplicam no oeste, a esperança surge e resolve a situação.
Mensageira de Deus, torna-se companheira predileta da criatura humana, a serviço do bem.
É a esperança que, ante os quadros da guerra, conclama ao trabalho e à paz.
Em meio ao inverno rigoroso, inspira coragem e aponta a estação primaveril que, logo mais explodirá em cor, perfume e beleza.
Nunca se afaste da esperança!
Redação do Momento Espírita, a partir do texto A balsa, de autoria
desconhecida e pensamentos do cap. 19 do livro
Perfis
da vida, pelo Espírito Guaracy Paraná Vieira, psicografia de
Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.
Em 24.04.2012.

Fazendo as malas


Quando uma longa viagem surge na vida de alguém, várias são as providências a tomar.
O indivíduo começa um planejamento de longo prazo, com calma e tranquilidade, para tudo poder executar a tempo.
Aos poucos vai se inteirando das informações do país em que irá morar.
Busca conhecer seus aspectos culturais, o clima, a alimentação, os hábitos locais.
E, antes de partir, aos poucos vai se desfazendo das coisas de menor importância, doando alguns pertences, passando a frente outros objetos, descartando as coisas inúteis que no tempo foi guardando.
Pondera o que efetivamente lhe é de grande valia para poder carregar consigo. Repensa em como irá conduzir a vida, a partir de uma nova morada. E aquilata as novas experiências que lhe serão possibilitadas com a viagem.
Como sabe que os anos no exílio lhe serão longos, despede-se dos amigos, não desesperadamente, mas com lágrimas de até breve.
Dá à família as instruções necessárias para sua ausência, para que tudo corra de maneira adequada e para que sua falta não lhes seja um grande fardo.
E assim se vai preparando, para que o dia da viagem não lhe chegue de forma súbita e inesperada, encontrando-o com a mala por fazer e com os preparativos ainda por se concluírem.
*   *   *
Assim se dá com nosso regresso ao mundo espiritual. É a viagem inevitável que todos faremos de retorno à nossa pátria, deixando a Terra que nos é escola bendita e redentora.
Como a viagem está marcada para todos e apenas desconhecemos a data da partida, que possamos aos poucos avaliar como estamos, caso logo mais sejamos convidados a voltar para casa.
Será que nos despediremos de nossos entes queridos com a tranquilidade de quem sabe que irá reencontrá-los um dia?
Será que já nos desfizemos do peso desnecessário e improdutivo que carregamos em nosso coração? Afinal, ele será a única mala que carregaremos.
Será que já nos desapegamos das coisas daqui, que hoje, por mais importantes que sejam, logo mais não terão serventia, quando partirmos?
Não poucos a morte do corpo físico arrebata de maneira despreparada e surpreendente.
Vivem como se a vida física fosse a de eternidade, sem refletir em momento algum sobre a fragilidade da existência humana, esquecendo-se que imortal é a alma, porém jamais o corpo.
Dessa forma, útil será que todos possamos, vez ou outra, refletir sobre a vida e seus valores.
Saber que ela vai muito além dos limites do corpo físico faz com que cada um de nós, aos poucos, vá arrumando as malas para a inexorável viagem de volta a casa.
Redação do Momento Espírita.
Em 13.04.2012.

Contentar-se


 
Em sua Epístola aos filipenses, Paulo de Tarso afirmou já ter aprendido a se contentar com o que tinha.
Trata-se de uma reflexão interessante e muito atual.
A vertigem da posse avassala a maioria das criaturas da Terra.
Homens e mulheres perdem a paz e, muitas vezes, a dignidade, na busca de riquezas.
Multiplicam suas atividades, para muito além do necessário, a fim de possuir muitas coisas.
Com tal proceder, deixam de prestar atenção em questões graves da existência humana.
Para ter mais e mais, abdicam do convívio com amigos e familiares e se deixam tomar pelo egoísmo.
A vida simples constitui uma condição da felicidade relativa que o planeta pode oferecer.
Contudo, ela foi esquecida por grande parte dos homens.
A Espiritualidade informa que a esmagadora maioria das súplicas que partem da Terra não se alça a planos superiores.
Elas não conseguem avançar além de seu acanhado âmbito de origem.
Isso porque os pleitos dirigidos à Divindade costumam conter estranhos absurdos.
Raras pessoas se contentam com o material recebido para a solução de suas necessidades.
Raríssimas pedem apenas o pão de cada dia, como símbolo das aquisições materiais indispensáveis.
O homem incoerente não procura saber se possui o menos para a vida terrena.
Ele costuma andar ansioso pelo mais nas possibilidades transitórias.
Geralmente, permanece absorvido pelos interesses perecíveis.
Insaciado, inquieto, vive sob o tormento angustioso de desmedida ambição.
Na corrida louca para o imediatismo, esquece a oportunidade que lhe pertence.
Desvaloriza e considera pouco o que a Sabedoria Divina lhe depositou nas mãos.
Olvida que renasceu para se pacificar e tornar virtuoso, e não para amontoar coisas que deixará ao morrer.
Com isso, atira-se em aventuras de consequências imprevisíveis, em face de seu futuro infinito.
Quem já entende a finalidade superior da existência terrena, precisa se esforçar para sair desse círculo vicioso.
De nada adianta gastar todas as energias em questões transitórias, com esquecimento do objetivo essencial da vida humana.
Cedo ou tarde, a morte de forma simples e clara revela a cada um o que é de fato importante.
Para não se arrepender amargamente, importa analisar a essência dos próprios desejos.
Faz sentido arder de cobiça pelo que ficará em suas mãos por reduzidos instantes?
Não é melhor libertar-se de tanto apego e prestar atenção em questões mais importantes, como a família, os amigos e as dores que pode amenizar?
Há muitos séculos, Paulo de Tarso iluminou-se ao aprender a contentar-se com o que tinha.
Ninguém fará essa lição por você.
Pense nisso.
 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 29, do livro
Caminho, Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel,
 psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb
Em 18.04.2012.