domingo, 10 de novembro de 2013

Tornando-nos reais




Ao mirar-se o horizonte, percebia-se que o sol, senhor do dia, baixava guarda ao reinado da lua.
Primeiro um, depois outro, os vizinhos começavam a trazer suas cadeiras para a frente dos lares, em busca de uma agradável conversa de final de dia.
Enquanto os adultos dialogavam sobre os mais variados assuntos, as crianças brincavam na rua.
Era como se, naquela comunidade, todos fizessem parte de uma mesma família.
Entretanto, aconteceu que um dia um dos vizinhos chegou em casa carregando uma grande caixa de papelão.
Ao anoitecer, como era costume, todos se reuniram nas calçadas para mais algumas horas de conversa.
Foi então que alguém, verbalizando a curiosidade geral, questionou o vizinho acerca do conteúdo da misteriosa embalagem.
Ele revelou que, depois de muito poupar, sua família havido comprado um aparelho de televisão.  Estavam ansiosos aguardando pelo dia seguinte, quando um técnico viria instalá-lo corretamente.
A vizinhança ficou toda admirada. Aquela era a primeira televisão a chegar naquela rua.
Os dias sucederam-se e aquele vizinho, bem como seus familiares, começaram a aparecer cada vez menos na alegre roda de conversa entre amigos.
Primeiro, vinham apenas a cada dois ou três dias. Depois, uma vez por semana. Então, uma vez ou duas por mês. E, finalmente, não apareceram mais.
Enquanto todos conversavam alegremente, contemplavam pelas vidraças a família do saudoso vizinho, sentado junto aos seus familiares, de frente para aquela tela brilhante.
O tempo foi passando. Logo, mais um vizinho apareceu com uma grande caixa de papelão em casa. E depois outro. E ainda mais um.
Gradualmente, a roda de conversa foi ficando menor, até desaparecer por completo.
Os vizinhos, agora, pouco se viam. À noite, recolhiam-se diante dos televisores, absortos pela programação, mergulhados num afastamento sem limites.
*  *  *
As décadas se passaram, mas a triste situação permanece.
Hoje, ainda que estejamos vivenciando a era da internet, através da qual temos ampla possibilidade de nos comunicarmos, jamais estivemos tão isolados.
Nunca o número daqueles que se sentem sós esteve tão alto, ainda que contando centenas de amigos nas redes sociais.
Contra a solidão e o isolamento, os ensinamentos eternos do Mestre: Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos.
Troquemos, vez ou outra, o toque frio dos mouses de computador, pelo toque caloroso de uma mão amiga. A digitação frenética, por momentos venturosos de uma conversa amistosa.
Os sites de bate papo, por idas ao parque, um jantar descontraído com os amigos, momentos de diversão.
A grande lição que todos temos diante da oportunidade reencarnatória que se apresenta é aprendermos a amar.
E tal aprendizado só se faz na relação com o outro: nos gestos de caridade e de perdão, nas palavras ditas num momento de ternura.
Quando, enfim, deixamos um pouco de lado o conforto e a praticidade da vida virtual e vivemos intensamente aquilo que nos torna reais e humanos: a capacidade de amar.
Pensemos nisso!
Redação do Momento Espírita.
Em 4.11.2013.

Recordando os que se foram




Das dores humanas, a que se refere à separação dos nossos amores, pela transição da morte, é das mais dolorosas.
Perante os lábios que silenciaram, deixando-nos na carência das palavras doces e ternas expressões que nos embalaram os dias, pulsa o nosso coração em dolorida soledade.
Contudo, é o instante de agradecer a Deus os momentos de felicidade que com aquele ser vivemos, durante os dias do amor que nos dedicou.
Contemplando fechados os olhos que nos sinalizaram alegrias e afetividade, olhos que nos censuraram em nome dos cuidados da ternura, choramos a dor da ausência do brilho que não tornaremos a ver.
No entanto, louvemos o Senhor da Vida pelo desvelo com que nos permitiu acompanhar o marca-passo de tão abençoada existência, que se interrompe ao impacto da desencarnação.
Notando que o coração que pulsava belezas, em notas de encantamentos, agora se deteve, não mais conseguindo as batidas abundantes de energia, de vitalidade, sentimos a própria bomba cardíaca falhar em seu ritmo.
Entretanto, ergamos aos céus a nossa emoção, dando graças ao Criador pela oportunidade que tivemos de partilhar a convivência com aquele afeto, no aprendizado que nos concedeu experiência e maturidade, em continuadas lições.
É dolorosa, sim, a separação dos nossos amores pela morte. Qual o coração de pai ou de mãe que não se sentirá despedaçar ante a rigidez do corpo do filho que até há pouco corria pela casa, em gritos de alegria?
Como não haveremos de sentir a ausência da voz cristalina a nos chamar pelo doce nome de mãe? De pai?
Qual o esposo ou esposa que não se sentirá murchar ante a ausência do vulto amado que não mais projetará sua sombra sobre as paredes do lar, que não mais ocupará seu lugar à mesa?
*   *   *
Mas, guardemos a certeza: não morreram os nossos afetos!
O emudecer da máquina orgânica não determina o fim da vida. É, sim, o momento em que, em pleno cenário da vida, o pano desce ao término de mais um ato.
Prossigamos assim, amando, ainda e sempre, os amores que viajaram no trem do passamento, em busca da plataforma terminal do Além, dedicando-lhes vibrações de equilíbrio e respeito, de harmonia e boa vontade.
Eles prosseguem atentos, da Espiritualidade, partilhando-nos os dias, na medida das suas possibilidades.
Recordemos os instantes de abençoados sorrisos e boa convivência e lhes enderecemos a palma de carinho em forma de oração.
Não caiamos no desespero ou na rebeldia, nos acreditando em abandono. Façamos o que nos compete, cada dia, prestando-lhes assim a justa homenagem.
Eles, mais do que antes, precisam da nossa resignação, em face das determinações do Criador.
Eles, que cumpriram os seus compromissos, nos aguardam para que, um dia, quando concluirmos as nossas próprias etapas, avancemos juntos para os plenos céus do futuro de aleluias e bênçãos sem termo.
*   *   *
A morte não visita somente o teu lar. Ela passa por todas as portas, invariavelmente.
Em face da ocorrência da morte que visita o teu lar, não te permitas a surpresa insensata, que se transformará em rebeldia e desespero.
Pensa com carinho nos que se foram e dialogarás com eles. Pensa neles com amor e sentirás a cariciosa presença deles, que te vêm diminuir a dor pungente da saudade.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 27, do livro
Cintilação das estrelas, pelo Espírito Camilo, psicografia de Raul Teixeira
e no verbete
Morte, do livro Repositório de sabedoria, v. 2, pelo
Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco,
ed. LEAL.
Em 2.11.2013.

Um aparente adeus




O dia estava alegre e divertido. Os familiares estavam reunidos na chácara dos avós para um almoço especial. Muita conversa, risada, carinho e felicidade.
As crianças faziam algazarra. Os avós, orgulhosos, as contemplavam, alegres pela presença tão estimada dos filhos e netos.
Após deliciosa refeição, as crianças, acompanhadas por alguns adultos, reuniram-se em torno do lago existente na propriedade, a fim de aproveitarem a tarde.
Junto delas estava Raul, que contava apenas dois anos.
Por breve instante de distração de todos que ali estavam, ele se afastou do grupo e acabou por parar perto da piscina.
Movido pela curiosidade, o menino aproximou-se da água e acabou nela caindo.
O pai, assim que percebeu o fato, tirou-o da piscina e fez todas as manobras de emergência para desafogá-lo, sem muito sucesso.
Mais do que depressa, levaram-no para o hospital, onde foi prontamente atendido. Entretanto, foi com pesar que o médico responsável comunicou à família que o pequeno não havia sobrevivido ao afogamento.
Naquele momento, os pais de Raul perderam o chão. Como podia aquele menino que, há apenas alguns instantes estava brincando e alegrando suas vidas, estar morto?
A dor era grande demais. Os avós, tios e primos estavam desnorteados. Não conseguiam acreditar na triste realidade na qual estavam imersos.
Onde há pouco existira alegria, risos e diversão, agora, havia tristeza, lágrimas e dor.
Como entender tal fenômeno que, não mais que de repente, leva para longe de nós aqueles a quem amamos, a quem devotamos todos os nossos melhores sentimentos?
Como entender que aquele que estava conosco, agora partiu, nos privando de sua companhia, nos privando de seus abraços e de seu carinho?
Estranho seria pensar que Deus, infinitamente justo e bom, nos uniria em famílias, com a finalidade de nos amarmos e depois ceifaria tal sentimento com um ponto final, chamado morte.
A morte, no entanto, não é uma despedida absoluta e, sim, relativa.
A vida do homem é como o sol das regiões polares durante o estio. Desce devagar, baixa, vai enfraquecendo, parece desaparecer um instante por baixo do horizonte. É o fim, na aparência.
Mas, logo depois, torna a elevar-se, para novamente descrever sua órbita imensa no céu.
Por mais pareça que a escuridão será eterna, o sol sempre nasce outra vez, brindando-nos com sua luz radiante.
No momento oportuno, as sombras da aparente perda e da saudade darão espaço à luz do reencontro, pois o corpo, esse sim perece, mas o Espírito é viajor incessante da eternidade.
E, enquanto tal reencontro não ocorre, cultivemos os laços de amor, que permitem a sintonia com o ser amado e a certeza de que o tão esperado abraço ocorrerá.
As lágrimas, nesse nobre momento, serão expressões sinceras de duas almas que muito ansiavam por esse reencontro.
*   *   *
Lembremos: a morte não é um adeus. Antes, é um até breve!

Redação do Momento Espírita, com pensamentos
extraídos do cap. 10, do livro
O problema do ser, do
destino e da dor, de Léon Denis, ed. FEB.
Em 31.10.2013.


sábado, 26 de outubro de 2013

O que temos


Na visão, tantas vezes pessimista, do homem, ele se esquece de que tem multiplicadas razões para ser infinitamente grato a Deus.
Foi certamente reflexionando a respeito das tantas bênçãos de que dispõe, que alguém elaborou uma prece, mais ou menos nos seguintes termos:
Eu agradeço a Deus... Pelos impostos que eu pago, porque isso significa que tenho um emprego... Muitos desejariam estar no meu lugar e não se importariam nem um pouco em ter tal desconto em seu salário, porque teriam um salário...
Agradeço a Deus pela confusão que eu tenho que limpar após uma festa, porque isso significa que estive rodeado de amigos que, mesmo num mundo onde tantos afirmam não ter tempo, eles têm tempo para me visitar no meu aniversário, na minha formatura, na comemoração de um sucesso na minha carreira ou simplesmente em um dia comum qualquer.
Agradeço pela minha sombra que me segue, porque isso significa que ando ao sol...
Pelas paredes que precisam ser pintadas, pela lâmpada que precisa ser trocada, pela torneira que vaza, pelo ladrilho quebrado, porque isso significa que ainda tenho minha moradia...
Por todas as críticas que faço às coisas que não me satisfazem, porque isso significa que tenho possibilidade de análise e discernimento, tanto quanto vivo em um país onde gozo da liberdade de expressão...
Pelo único lugar para estacionar que encontro bem ao fundo do estacionamento, porque isso significa que, além de ter a felicidade de poder andar, tenho a ventura de ter um meio de transporte...
Pela música que toca desafinadamente atrás de mim, porque isso significa que posso ouvir...
Pelo cansaço e os músculos doloridos que eu sinto ao final do dia, porque isso significa que tenho saúde para trabalhar...
Pelo despertador que toca às primeiras horas da manhã, quando ainda me encontro sonolento e gostaria de permanecer dormindo mais um pouco, porque isso quer dizer que mereci a bênção de acordar no corpo outra vez.
Finalmente, por todos os e-mails que recebo diariamente, o que significa que tenho amigos que pensam em mim, mesmo que por poucos minutos, diante de uma tela de computador...
Por fim... Obrigado meu Deus pela minha vida cheia de problemas, porque eles me farão ter certeza de que eu sou capaz de resolver cada um e, da melhor maneira.



* * *
Diante do prato de comida que tenhamos à mesa, não reclamemos da sua singeleza ou da reprise de todos os dias. Lembremos que, bem próximo de nós, alguém desejaria intensamente ter um pedaço de pão para saciar a fome.
Diante da ausência do refrigerante ou suco de nossa predileção no restaurante em que nos encontremos, não reclamemos. Pensemos em quantos, no mundo, morrem por ausência de um pouco de água que lhes mantenha a vida.
Diante do congestionamento de trânsito que nos detenha na rua ou na rodovia, não reclamemos. Pensemos em quantos gostariam de deter o passo um pouco, para descansar, mas não o podem fazer, porque necessitam vencer grandes distâncias a pé, para chegar ao posto de socorro mais próximo.
Enfim, diante da ausência de qualquer coisa que desejemos, pensemos, antes de reclamar, em tudo de que já dispomos e que nos beneficia com conforto, alegrias e sucessos.
E, em nome da caridade, recordemo-nos de orar por todos aqueles que não desfrutam dessas mesmas oportunidades.

Redação do Momento Espírita, com base
em texto de autoria desconhecida.
Em 23.10.2013.