quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A melhor idade do amor


 
Sábado, dez horas e vinte e um minutos da manhã. Chuva insistente de outono.Um casal adentra uma panificadora para tomar café.
Dois cafés com leite e três pães de queijo, por favor.
Ela parece um pouco agitada. Não tira os olhos dele.Ele parece tranquilo, dessas pessoas que já conseguem viver num tempo um pouco mais lento do que o do relógio.
A diferença de idade é gritante. Não mais de quarenta, ela. Próximo aos oitenta, ele.
Ele olha para fora pela janela entreaberta.
Ela sorri, carinhosa.
Todos os seus filhos nasceram aqui nesta cidade?
Ele pensa um pouco... - Sim, todas elas... Três filhas.
E você? Onde nasceu?– Volta a inquirir a mulher.
Eu não sou daqui. Nasci no interior... Longe da cidade.
E o que você lembra de lá?
Ah... Muitas coisas... – Responde ele, com leve sorriso.
Então, silencia. Parece fazer algum esforço para recordar de algo especial, mas logo desiste. Volta a olhar para fora, procurando a chuva fina.
Sabe... Acho que tive uma vida feliz...
Ela permanece interessada. Um interesse de primeiro encontro. Observa os cabelos brancos dele, a tez um pouco castigada, os olhos azuis.
Respira fundo. Alguém poderia dizer que é o respirar de quem está apaixonado.
Você só casou uma vez? – Pergunta ela, com certo embaraço na voz.
Sim. Tereza. Mãe de minhas meninas. Que Deus a tenha.
Ela fica um pouco emocionada e constrangida, repentinamente. Esboça um sorriso para disfarçar. Olha para a mesa. Ainda resta um pão.
Pode comer. Já estou satisfeita.
Almoçamos juntos amanhã? – Pergunta ele, ansioso por ouvir um sim.
Sim... Claro que sim. É dia de almoçarmos juntos. Você sabe que gosto muito de estar com você, de ouvir suas histórias...
Estou um pouco esquecido hoje, eu acho. Contei pouco...
Não tem problema. – Diz ela, carinhosa. -Tem dias que a gente está com a memória mais fraca mesmo.
Doutor Maurício disse que é importante ficar puxando as coisas da memória sempre. Ele diz que é como um exercício físico que fazemos para não “enferrujar”. – Conclui ele.
É verdade... – Ela suspira. – Precisamos cuidar da memória...
Novamente um longo silêncio entre os dois.
Ele volta a vislumbrar o exterior, contemplativo.
Ela nota seu rosto em detalhes, ternamente.
Fecha os olhos, por um instante, como se fizesse uma breve oração, uma rogativa sincera a uma Força Maior.
Volta a abri-los, vagarosamente, e então pergunta:
Pai...Pai... Posso pedir a conta?
Ele acena positivamente. A conta chega. Ela se levanta primeiro, vai em direção a ele, envolve-o num abraço e o ajuda a levantar.
Aquela era a rotina de todo sábado, às dez horas e vinte e um minutos da manhã, nos últimos dez meses.
*   *   *
Foram nossos genitores que nos proporcionaram um corpo, abençoado instrumento de trabalho para o nosso progresso, bem como um lar.
Pensando em tudo isso, louve aos seus pais. Cuide deles, agora quando estão velhos, alquebrados, frágeis ou doentes.
Faça o possível para não os atirar nos tristes quartinhos dos fundos da casa, aonde ninguém vai. Não se furte à alegria de apresentá-los aos seus amigos e às suas visitas;
Ouça o que eles tenham a dizer. Quando estejam em condições para isso, leve-os para as refeições à mesa com você. Retribua, assim, uma parcela pequena do muito recebido por seus genitores anos atrás.

Redação do Momento Espírita com base no cap. 7, do livro Ações
corajosas para viver em paz, pelo Espírito Benedita da Silva,
psicografia de José Raul Teixeira, ed. Fráter
Disponível no cd Momento Espírita, v. 19, ed. Fep
Em 09.08.2012.

domingo, 19 de agosto de 2012

O homem e o tempo


 
No mundo moderno, parece que o tempo é um artigo de luxo.
São constantes as reclamações a respeito de sua falta.
Muitos se dizem atarefados em excesso.
Incontáveis afirmam que o tempo parece passar cada vez mais rápido.
Envoltos em inúmeros afazeres, sentem-se autênticos reféns da vida.
Essa dificuldade humana para bem administrar o tempo não constitui algo novo.
O Espírito Emmanuel, mentor de Francisco Cândido Xavier, já tratou dela.
Certa feita, ele afirmou que o tempo não passa pelo homem, mas que o homem, sim, passa pelo tempo.
A diferença pode parecer sutil, mas é muito importante.
Quando se está parado e algo passa, surge uma certa sensação de lerdeza ou imobilidade, pois não se consegue acompanhar o que vai adiante.
O fenômeno apresenta-se diferente quando é o homem que passa e segue em frente.
Segundo o dizer de Emmanuel, é justamente isso que ocorre em relação ao tempo.
O homem é que se movimenta e direciona o seu viver, ao longo do tempo que lhe é dado.
Sendo assim, ele é quem dita o ritmo de sua vida.
Essa imagem feliz procura desvincular o ser humano de um sentir deletério em relação ao fenômeno temporal.
Ela busca capacitá-lo para viver em plenitude o momento presente.
Sem remorsos pelo que já foi.
Se erros foram cometidos, é necessário corrigi-los, mas de nada adianta escravizar-se ao passado.
Também evita ansiedades pelo que ainda será.
O importante é fazer o melhor no tempo presente.
Desfrutá-lo, em suas inúmeras possibilidades.
Ter ciência de que cabe ao homem disciplinar o próprio viver.
A mídia por vezes trabalha contra isso.
Ela passa a impressão de que o relevante é comprar muitas coisas, frequentar certos locais, distrair-se até a exaustão.
Habitualmente se afirma que o tempo é de ouro, ou que tempo é dinheiro.
Dependendo do enfoque, as assertivas são verdadeiras.
É preciso mesmo dar destinação útil ao próprio tempo.
Mas de forma equilibrada, sem se converter em escravo de atividades que se multiplicam de modo desnecessário.
E também sem se permitir torturar pelo que já foi ou pelo que virá.
Desfrutar o momento que se vive.
Se é horário de trabalho, trabalhar com serenidade, sem se angustiar pelo que ocorre em outros ambientes.
Em casa, desfrutar em paz da companhia da família.
Em momentos de estudo, apenas estudar.
Para viver em paz em meio às tormentas do mundo, é preciso tornar-se senhor do próprio tempo.
Eleger o que merece dedicação em dado instante e fazê-lo com serenidade.
Como disse Jesus, o dia de amanhã cuidará de si mesmo.
Se o hoje for bem vivido e aproveitado, certamente o amanhã será pacífico.
Pense nisso.
Redação do Momento Espírita.
Em 07.12.2010.

Trabalho e oração

 
A oração constitui um valioso recurso à disposição dos homens.
Mediante ela, consegue-se acesso a faixas superiores da vida.
O homem que ora com fervor se previne de muitos males.
Ao se ligar com esferas espirituais pacíficas e felizes, gradualmente se ajusta com os ideais que nelas imperam.
Entretanto, a oração não constitui um mecanismo de transferência das próprias responsabilidades.
Muitas vezes se espera do céu uma solução decisiva para inúmeros problemas da existência humana.
Trata-se de uma viciação mental, mediante a qual a criatura busca se furtar ao esforço que lhe cabe em sua jornada terrena.
Para que isso fique claro, basta lembrar o exemplo de Jesus.
Ele representa a Misericórdia Divina no planeta.
Mas, enquanto na carne, não livrou ninguém de cuidar dos próprios interesses.
Auxiliou doentes e aflitos, sem retirá-los das questões fundamentais que lhes diziam respeito.
Zaqueu, o rico prestigiado pela visita que lhe foi feita, sentiu-se constrangido a modificar a sua conduta.
Maria de Magdala recebeu carinhosa atenção.
Contudo, não ficou livre do dever de sustentar-se no árduo combate da renovação interior.
Lázaro, reerguido das trevas do sepulcro, nem por isso deixou de mais tarde ter de aceitar o desafio da morte física.
Paulo de Tarso foi distinguido por um apelo pessoal às portas de Damasco.
No entanto, a seguir se lançou em uma vida de sacrifícios para cumprir o papel que lhe cabia no mundo.
Nessa linha, é totalmente ilógico acreditar que basta orar para que todos os problemas se resolvam.
A oração é preciosa, mas representa apenas o começo da solução.
Mediante ela, o homem se fortifica e esclarece.
A partir daí, forte e lúcido, deve fazer a sua parte.
Assim, ore, pois isso é mesmo importante.
Mas, na sequência, trabalhe firme para atingir seus objetivos.
Se deseja um emprego melhor, estude e se aprimore.
Desenvolva seus talentos, eduque-se para poder aproveitar as oportunidades que surgirem em sua vida.
Se quer saúde, modifique seu estilo de vida.
Modere seus apetites, exercite-se, acalme-se.
Caso almeje amigos dignos e confiáveis, faça por onde atrair pessoas boas para sua vida.
Discipline-se para manter uma conversação sadia, seja educado e atencioso, comporte-se com nobreza.
Na hipótese de sonhar com um ambiente familiar equilibrado, comece a construí-lo.
Aprenda a perdoar, ouça seus familiares com atenção, respeite o espaço e as opiniões deles.
Esse método talvez não pareça sedutor à primeira vista.
Afinal, pressupõe esforço e disciplina.
Entretanto, ele seguramente dá resultados.
Todo esforço digno, por mínimo que seja, invariavelmente recebe da vida a melhor resposta.
Pense nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. XVIII do livro
Nos domínios da mediunidade, pelo Espírito André Luiz,
psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.
Em 15.03.2012.