quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Professores


Você recorda o nome de sua primeira professora?
Pois é, quase nunca lembramos. Mas, com certeza, recordamos dos nomes dos nossos professores universitários.
E não é pelo fato da proximidade de nossa formatura. Nós os lembramos pelo cabedal de conhecimentos, pela experiência e segurança, dentro de sua área de atuação.
Nós os recordamos porque partilharam das nossas lutas mais árduas, a fim de conseguirmos o tão ambicionado diploma.
Nós os lembramos porque estiveram conosco nas pesquisas e nas orientações particulares.
Também porque foram, muitas vezes, os que nos conduziram aos nossos primeiros estágios, ensaiando-nos para a carreira profissional.
Alguns nos orientaram em nossas teses e monografias, a fim de alcançarmos as especializações que almejávamos.
Temos razão em recordá-los e com gratidão. Entretanto, de nada adiantaria todo o conhecimento e a experiência deles na universidade, se não tivéssemos chegado até lá.
E somente chegamos até lá porque em nossa infância, alguém de extrema dedicação nos abriu a possibilidade da leitura, desvendando-nos o alfabeto.
Alguém que teve paciência suficiente para nos ensinar a decifrar os códigos da escrita. Que tomou da nossa mão e foi traçando os contornos das vogais e consoantes, a fim de que aprendêssemos a escrever.
Essa criatura foi nossa primeira professora. Enquanto brincávamos ou descansávamos após as horas da escola, ela se debruçava sobre livros à cata de contos e histórias para melhor ilustrar o ensino, no dia seguinte.
Enquanto nós dormíamos, ela estava criando e confeccionando materiais com suas mãos habilidosas. Eram personagens, gravuras, painéis para compor a próxima aula.
Tudo para que o estudo nos parecesse atraente e a escola nos conquistasse.
Crescemos. Hoje, quando lemos com fluência, até em outros idiomas, possivelmente nem nos recordamos das dificuldades dos primeiros momentos.
Após tantas conquistas e tantos anos passados, é bom nos lembrarmos da nossa primeira professora, aquela que descobriu a terra propícia da nossa riqueza interior e a despertou.
Aquela que nos ensinou os sons precisos das letras e como uni-las, a fim de formar palavras. Aquela que nos forneceu as noções básicas das operações aritméticas, a fim de que pudéssemos entender as noções de quantidade, pesos, medidas.
*   *   *
Se você tem hoje filho na escola e se emociona quando ele chega em casa, cantando uma pequena canção ou contando uma história, lembre: há uma criatura muito especial que se dedica de forma muito particular a ensinar-lhe muitas coisas, todos os dias.
Por isso, da próxima vez que seu filho olhar para uma placa ou painel de propaganda, em plena rua e começar a soletrar, tentando unir as letras para formar palavras e você o olhar com orgulho, não deixe de lembrar do tesouro precioso que é a escola.
Mais do que isso, não esqueça de agradecer, de vez em quando, à professora, por essas pequenas grandes conquistas do seu filho.

Redação do Momento Espírita, em homenagem à
Eugédia Maria Therezinha Venzon Bittencourt.
Em 15.10.2012.

Vitrine do mundo


O menino caminhava ao lado de sua avó por movimentada avenida. Estava de férias e reservara aquele dia para o passeio há muito combinado com a gentil senhora.
Já haviam observado diversas vitrines, quando uma em especial chamou-lhes a atenção. Tratava-se de uma loja de brinquedos.
O menino ficou encantado. Havia brinquedos dos mais variados tipos, coloridos, eletrônicos e de tabuleiro. Ele não sabia para qual deles olhar primeiro.
Andava eufórico de um extremo ao outro da vitrine, chamando a atenção da avó para esse e aquele brinquedo.
A bondosa senhora, percebendo a alegria, disse que ele poderia escolher um entre os brinquedos expostos para que ela o presenteasse.
Ansioso, o menino observou mais uma vez todas as opções.  Sentindo-se ainda bastante indeciso, pediu à avó que o auxiliasse na escolha. Gentilmente, ela começou a lhe dar sugestões.
Nesse momento, o menino avistou, no lado oposto da rua, outro menino, encolhido sob uma marquise. Suas roupas estavam muito sujas e os pés, descalços.
Tomado de compaixão, chamou a atenção da senhora para aquele menino e, segurando nas macias mãos da avó, disse-lhe: Vovó, ao invés de comprarmos um brinquedo caro para mim, poderíamos usar esse dinheiro para levarmos aquele menino para almoçar conosco. O que a senhora acha?
A avó, tomada de surpresa pelo gesto nobre do neto, mais do que depressa concordou com ele e, juntos, foram convidar o menino para almoçar.
Rumaram os três para uma deliciosa refeição, não sem antes comprar roupas para aquela criança cujo futuro era tão incerto.
Através de uma longa conversa, a senhora descobriu que ele era órfão e, desde a morte de seus pais, estava nas ruas, passando pelas mais diversas necessidades.
Sendo assim, ela o levou para um abrigo de menores, não deixando de visitá-lo, com seu neto, periodicamente, dando-lhe atenção e amor.
*   *   *
O mundo é para nós uma grande vitrine. Nele, vemos expostas das coisas mais sublimes até as mais repugnantes.
Encontramos da mais alta filosofia, das mais impressionantes obras de arte, dos mais belos gestos humanitários até a violência gratuita, os preconceitos, o desrespeito pela vida humana.
Temos tudo ao nosso dispor. O que nos diferencia é a escolha que fazemos diante de tantas opções. Podemos optar pela guerra ou escolher a paz. Optar pelo tratamento cordial ou pelo desprezo mesquinho.
Podemos, ainda, escolher auxiliar alguém através de um gesto caridoso ou fingirmos que as dores do mundo não fazem parte do nosso cabedal de responsabilidades.
Nossas escolhas são capazes de mudar vidas, estabelecer rumos, abrandar corações, curar feridas. São elas que definem o que somos. Nós somos o produto de nós mesmos.
Nas palavras do autor irlandês Clive Lewis: Cada vez que você faz uma escolha, está transformando sua essência em alguma coisa um pouco diferente do que era antes.
Pensemos nisso!
Redação do Momento Espírita.
Em 20.10.2012.

Vencendo as aflições


Quando aquele rapaz começou a sentir as primeiras dores em uma das mãos, era uma pessoa em plena atividade profissional, trabalhador responsável e pai de família.
A sua rotina de trabalho lhe exigia muitas horas de uso do teclado do computador, o que desencadeou inicialmente um processo inflamatório dos nervos e tendões em uma das mãos.
Porém, mesmo seguindo as recomendações médicas e o tratamento adequado, a dor aumentou com o passar do tempo, levando-o a movimentar cada dia menos a mão acometida.
Entre exames e tentativas de diagnóstico médico, passaram-se alguns meses.
Com o transcorrer do tempo, os sintomas continuaram a evoluir. Veio o inesperado diagnóstico de um tipo de doença neurológica, na qual a principal característica é a presença de dor extremamente intensa nas regiões acometidas.
Passados mais de seis anos após o aparecimento dos primeiros sintomas, ele vive uma situação muito diferente do que a de muitos jovens da sua idade.
A progressão da patologia, somada às várias complicações do próprio quadro, levaram-no à necessidade de manter-se, na maior parte do tempo, deitado sobre uma cama.
As aflições que enfrenta são inúmeras.
Dentre elas, passa por uma complicada situação financeira e ingere diariamente doses elevadíssimas de medicação para alívio das dores, sofrendo indesejáveis efeitos colaterais.
Porém, o que mais surpreende a todos que convivem com ele, é a capacidade que carrega dentro de si de enfrentar essa situação com esperança e grande fé no coração.
Apesar de lutar diariamente contra tamanhas dificuldades, dentre elas, a impossibilidade de desfrutar momentos ao lado do filho, jamais se observou algum traço de revolta ou indignação pela situação em que se encontra.
Recebe, semanalmente, visita de vários amigos e é comum encontrá-lo com desconforto e dores, porém nunca com reclamações ou palavras de desesperança.
Rapaz inteligente e lutador, muitas vezes é ele próprio quem consola e alivia o coração dos que o visitam, contando histórias e conversando sobre temas edificantes.
Demonstra fé inabalável em Deus e demonstra uma forma sublime de enfrentar a dor, com paciência e grande resignação.
A consciência de que o sofrimento de hoje pode estar ligado às próprias faltas do passado e de que a atual situação pode ser libertadora para o Espírito endividado, traz-lhe serenidade.
Ele busca, constantemente, o alento da Doutrina Espírita.  Extrai dos ensinamentos cristãos a esperança que sustenta a vida e o impulsiona para a vitória sobre as dificuldades.
Sua postura contribui imensamente para a renovação do entusiasmo, transformando-se em recurso terapêutico de forte alcance.
Tem em mente que as aflições de agora transformar-se-ão em tranquilidade para sempre e chegará o dia em que sua alma estará repleta de pura alegria.
*    *   *
Pensemos em como temos enfrentado nossas dores.
Não nos esqueçamos que somente padecemos o que se faz indispensável à vitória sobre nós mesmos.
Redação do Momento Espírita,
Em 23.10.2012.

A parábola relembrada




Conta-se que, após ouvir a parábola do samaritano, narrada por Jesus, o Apóstolo Tadeu ficou muito interessado no assunto.
Mais tarde, pediu que o Mestre fosse mais explícito nos ensinamentos.
Jesus, com Sua peculiar bondade, relatou o seguinte: Um homem enfermo jazia no chão, às portas de grande cidade.
Pequena massa popular assistia indiferente aos seus esgares de dor.
Passou por ali um moço romano de coração generoso.
Apressado, atirou-lhe duas moedas de prata, que um rapazelho de maus costumes subtraiu às ocultas.
Logo após, transitou pelo local um venerando escriba da lei.
Alegando tarefas urgentes a realizar, prometeu enviar autoridades, em benefício do mendigo anônimo.
Quase de imediato, desfilou por ali um sacerdote, que lançou ao viajante desamparado um gesto de bênção.
Afirmando que o culto a Deus o esperava, estimulou o povo a asilar o doente e alimentá-lo.
Depois dele, surgiu respeitável senhora, a quem o pobre dirigiu comovente súplica.
A nobre matrona lastimou as dificuldades de sua condição de mulher.
Invocou o cavalheirismo masculino para aliviá-lo, como se fazia imprescindível.
Minutos mais tarde, um grande juiz passou pelo mesmo trecho da via pública.
Afirmou que nomearia algumas testemunhas, a fim de verificar se o mísero não era algum viciado vulgar, e se afastou.
Decorridos ainda alguns instantes, veio à cena um mercador.
Condoído, asseverou a sua carência de tempo e deu vinte moedas a um homem que lhe pareceu simpático.
Assim, esperou que o problema de assistência fosse resolvido.
Mas o preposto improvisado era um malfeitor e fugiu com o dinheiro sem prestar o socorro prometido.
O doente tremia e suava de dor, rojado ao pó.
Foi quando surgiu um velho publicano, considerado de má vida, por não adorar o Senhor segundo as regras dos fariseus.
Com espanto de todos, aproximou-se do infeliz e lhe endereçou palavras de encorajamento e carinho.
Deu-lhe o braço e o levantou, sustentando-o com as próprias energias.
Conduziu-o a uma estalagem de confiança, fornecendo-lhe medicação adequada.
Também dividiu com ele o dinheiro que trazia consigo.
Em seguida, retomou com tranquilidade o seu caminho.
Depois de interromper-se ligeiramente, o Mestre perguntou ao discípulo: Em sua opinião, quem exerceu a caridade legítima?
Sem dúvida, foi o publicano, exclamou Tadeu.
Além de dar o dinheiro e palavras, deu também o sentimento, o tempo, o braço e o estímulo fraterno.
E para tudo usou das próprias forças.
Jesus fitou no aprendiz os olhos penetrantes e rematou:
Então, faça o mesmo.
  *   *
A caridade por substitutos é indiscutivelmente honrosa e louvável.
Mas o bem que praticamos em sentido direto, dando de nós mesmos, é sempre o maior e o mais seguro de todos.
Pensemos nisso.

Redação do Momento Espírita, com base no cap. 29, do livro
Jesus no lar, pelo Espírito Neio Lúcio,
psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb.
Em 13.10.2012.