quarta-feira, 25 de abril de 2012

Verdadeira compaixão


 Quando resolveu contar histórias para crianças em hospitais, como voluntário da associação Viva e deixe viver, aquele desembargador teve de superar a si mesmo.
No dia escolhido para seu turno, na ala de queimados de um grande hospital de São Paulo, ele colocou seu nariz de palhaço, ajeitou seu avental colorido e enfrentou a forte visão das crianças com queimaduras.
Foi um grande choque. Porém, em poucos minutos, ele já estava solto.
Sabia que sua maneira de exercitar a compaixão ali era dar alegria a quem estava mergulhado no sofrimento.
O que ele não podia, naquele momento, era sentir dó, piedade, peninha. Por isso riu e arrancou muitos sorrisos, com as histórias que contou.
Foi um verdadeiro sucesso. Quando estava quase saindo, sentiu um puxão no seu avental. Era um menino de uns cinco anos, com o rosto quase totalmente envolto por bandagens e esparadrapos.
O garoto fez um sinal para o desembargador se inclinar e disse bem baixinho no seu ouvido: Tio, pode não parecer, mas eu estou rindo...
Aí não teve jeito, algo se desmanchouem seu coração. Percebeu que ele se tornou mais terno, mais terno, e perdeu um pouco sua carapaça habitual de dureza.
Como não preenchê-lo de amor por aquela criança vivendo condições tão difíceis?
*   *   *
O sentimento da compaixão é mesmo um transbordamento amoroso. Como as lágrimas, que rolam dos olhos por causa da emoção, ela transborda diretamente do coração, só que em direção ao mundo.
Quando sentimos pena, olhamos de cima para baixo, evitando o envolvimento com a situação ou com o outro.
Quando vivemos a compaixão, olhamos de lado, de dentro e nos sentimos responsáveis, comprometidos com o outro.
A verdadeira compaixão tem por base o raciocínio de que todo ser humano tem o desejo inato de ser feliz e de superar o sofrimento, exatamente como nós.                    
E, exatamente como nós, o outro tem o direito de realizar essa aspiração fundamental.
O filósofo André Comte Sponville esclarece que compartilhar o sofrimento do outro não é aprová-lo nem compartilhar suas razões, boas ou más, para sofrer.
É recusar-se a considerar um sofrimento, qualquer que seja, como um fato indiferente. E um ser vivo, qualquer que seja, como coisa.
Os grandes missionários da Terra, aqueles que se dedicaram ao próximo de forma intensa, foram grandes exemplos dessa compaixão, pois não cederam à indiferença.
Não suportaram ver o sofrimento alheio sem fazer nada a respeito e se atiraram a tarefas grandiosas de abnegação e coragem pelo mundo.
A compaixão é dinâmica, atuante e vibrante.
Eis mais uma virtude que podemos aprender. Mais um tesouro escondido na alma que precisa ser descoberto.
*   *   *   
Deixai que o vosso coração se enterneça ante o espetáculo das misérias e dos sofrimentos dos vossos semelhantes.
Vossas lágrimas são um bálsamo que lhes derramais nas feridas e, quando, por bondosa simpatia, chegais a lhes proporcionar a esperança e a resignação, que encanto não experimentais!
   
 Redação do Momento Espírita, com base em matéria de autoria de Liane Alves, da revista Vida simples, de novembro de 2007 e no cap. Compaixão, do livro Pequeno tratado das grandes virtudes, de André Comte Sponville, ed. Martins Fontes.
Em 25.04.2012.

A Balsa

Na História da Humanidade encontramos acontecimentos que nos levam a profundas reflexões.
Em 1816, uma fragata francesa encalhou próxima à costa do Marrocos. Não havia número suficiente de botes salva-vidas. Os restos do navio foram a única balsa que manteve vivas cento e quarenta e nove pessoas.
A tempestade as arrastou ao mar aberto por mais de vinte e sete dias sem rumo.
A dramática experiência dos sobreviventes impressionou a um artista. Theodoro Gericault realizou um estudo substancial dos detalhes para produzir a pintura.
Ele entrevistou os sobreviventes, os enfermos e, inclusive, viu os mortos. Horrorizado, reproduziu a íntima realidade humana nessa situação.
Seu quadro, intitulado A balsa de Medusa, retrata não somente o naufrágio do navio A Medusa, ocorrido no dia dois de julho de 1816, mas um acontecimento que comoveu a França e trouxe repercussões que tocaram o mais profundo da alma humana.
Na pintura, pode-se ver as diferentes atitudes humanas que se manifestam nos momentos cruciais da vida.
Alguns dos sobreviventes se apresentam deitados, em total abandono, sem reação alguma. Parecem simplesmente aguardar a morte inevitável.
Outros se mostram desesperançados, alheios aos demais. O olhar distante, perdido no vazio, demonstra que perderam a vontade de viver e de lutar.
Um punhado deles, no entanto, mantém a esperança acima de tudo. Tiram do corpo as próprias camisas e as agitam com força, fixando um ponto no horizonte, como se desejassem ser vistos por alguma embarcação, por alguém.
O curioso, entretanto, é que embora eles estejam balançando as vestes brancas, não há nenhum navio à vista. Nada que indique que eles serão resgatados.
*   *   *
A balsa é como o planeta Terra. Os tripulantes são a Humanidade e as atitudes que cada um toma diante da vida.
Podemos ser como os desesperançados, quando atravessamos situações difíceis e nos decidimos a simplesmente nos entregar sem luta alguma.
Podemos estar enquadrados entre aqueles que acreditam que não há solução e, assim, também não há porque se esforçar para melhorar o estado de coisas.
Podemos também ser os que duvidamos de tudo e de todos. Ou, finalmente, ser aqueles que mantemos a esperança acima de tudo, esforçando-nos para chegar à vitória, embora ela pareça estar muito, muito distante.
Afinal, decidir pela vitória em toda circunstância que a vida nos coloca é atitude de esperança.
*   *   *
Quando os problemas se multiplicam no norte da vida e os desafios ameaçam pelo sul, as dificuldades surgem pelo leste e os perigos se multiplicam no oeste, a esperança surge e resolve a situação.
Mensageira de Deus, torna-se companheira predileta da criatura humana, a serviço do bem.
É a esperança que, ante os quadros da guerra, conclama ao trabalho e à paz.
Em meio ao inverno rigoroso, inspira coragem e aponta a estação primaveril que, logo mais explodirá em cor, perfume e beleza.
Nunca se afaste da esperança!
Redação do Momento Espírita, a partir do texto A balsa, de autoria
desconhecida e pensamentos do cap. 19 do livro
Perfis
da vida, pelo Espírito Guaracy Paraná Vieira, psicografia de
Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.
Em 24.04.2012.

Fazendo as malas


Quando uma longa viagem surge na vida de alguém, várias são as providências a tomar.
O indivíduo começa um planejamento de longo prazo, com calma e tranquilidade, para tudo poder executar a tempo.
Aos poucos vai se inteirando das informações do país em que irá morar.
Busca conhecer seus aspectos culturais, o clima, a alimentação, os hábitos locais.
E, antes de partir, aos poucos vai se desfazendo das coisas de menor importância, doando alguns pertences, passando a frente outros objetos, descartando as coisas inúteis que no tempo foi guardando.
Pondera o que efetivamente lhe é de grande valia para poder carregar consigo. Repensa em como irá conduzir a vida, a partir de uma nova morada. E aquilata as novas experiências que lhe serão possibilitadas com a viagem.
Como sabe que os anos no exílio lhe serão longos, despede-se dos amigos, não desesperadamente, mas com lágrimas de até breve.
Dá à família as instruções necessárias para sua ausência, para que tudo corra de maneira adequada e para que sua falta não lhes seja um grande fardo.
E assim se vai preparando, para que o dia da viagem não lhe chegue de forma súbita e inesperada, encontrando-o com a mala por fazer e com os preparativos ainda por se concluírem.
*   *   *
Assim se dá com nosso regresso ao mundo espiritual. É a viagem inevitável que todos faremos de retorno à nossa pátria, deixando a Terra que nos é escola bendita e redentora.
Como a viagem está marcada para todos e apenas desconhecemos a data da partida, que possamos aos poucos avaliar como estamos, caso logo mais sejamos convidados a voltar para casa.
Será que nos despediremos de nossos entes queridos com a tranquilidade de quem sabe que irá reencontrá-los um dia?
Será que já nos desfizemos do peso desnecessário e improdutivo que carregamos em nosso coração? Afinal, ele será a única mala que carregaremos.
Será que já nos desapegamos das coisas daqui, que hoje, por mais importantes que sejam, logo mais não terão serventia, quando partirmos?
Não poucos a morte do corpo físico arrebata de maneira despreparada e surpreendente.
Vivem como se a vida física fosse a de eternidade, sem refletir em momento algum sobre a fragilidade da existência humana, esquecendo-se que imortal é a alma, porém jamais o corpo.
Dessa forma, útil será que todos possamos, vez ou outra, refletir sobre a vida e seus valores.
Saber que ela vai muito além dos limites do corpo físico faz com que cada um de nós, aos poucos, vá arrumando as malas para a inexorável viagem de volta a casa.
Redação do Momento Espírita.
Em 13.04.2012.

Contentar-se


 
Em sua Epístola aos filipenses, Paulo de Tarso afirmou já ter aprendido a se contentar com o que tinha.
Trata-se de uma reflexão interessante e muito atual.
A vertigem da posse avassala a maioria das criaturas da Terra.
Homens e mulheres perdem a paz e, muitas vezes, a dignidade, na busca de riquezas.
Multiplicam suas atividades, para muito além do necessário, a fim de possuir muitas coisas.
Com tal proceder, deixam de prestar atenção em questões graves da existência humana.
Para ter mais e mais, abdicam do convívio com amigos e familiares e se deixam tomar pelo egoísmo.
A vida simples constitui uma condição da felicidade relativa que o planeta pode oferecer.
Contudo, ela foi esquecida por grande parte dos homens.
A Espiritualidade informa que a esmagadora maioria das súplicas que partem da Terra não se alça a planos superiores.
Elas não conseguem avançar além de seu acanhado âmbito de origem.
Isso porque os pleitos dirigidos à Divindade costumam conter estranhos absurdos.
Raras pessoas se contentam com o material recebido para a solução de suas necessidades.
Raríssimas pedem apenas o pão de cada dia, como símbolo das aquisições materiais indispensáveis.
O homem incoerente não procura saber se possui o menos para a vida terrena.
Ele costuma andar ansioso pelo mais nas possibilidades transitórias.
Geralmente, permanece absorvido pelos interesses perecíveis.
Insaciado, inquieto, vive sob o tormento angustioso de desmedida ambição.
Na corrida louca para o imediatismo, esquece a oportunidade que lhe pertence.
Desvaloriza e considera pouco o que a Sabedoria Divina lhe depositou nas mãos.
Olvida que renasceu para se pacificar e tornar virtuoso, e não para amontoar coisas que deixará ao morrer.
Com isso, atira-se em aventuras de consequências imprevisíveis, em face de seu futuro infinito.
Quem já entende a finalidade superior da existência terrena, precisa se esforçar para sair desse círculo vicioso.
De nada adianta gastar todas as energias em questões transitórias, com esquecimento do objetivo essencial da vida humana.
Cedo ou tarde, a morte de forma simples e clara revela a cada um o que é de fato importante.
Para não se arrepender amargamente, importa analisar a essência dos próprios desejos.
Faz sentido arder de cobiça pelo que ficará em suas mãos por reduzidos instantes?
Não é melhor libertar-se de tanto apego e prestar atenção em questões mais importantes, como a família, os amigos e as dores que pode amenizar?
Há muitos séculos, Paulo de Tarso iluminou-se ao aprender a contentar-se com o que tinha.
Ninguém fará essa lição por você.
Pense nisso.
 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 29, do livro
Caminho, Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel,
 psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb
Em 18.04.2012.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Como educar os filhos?


Narra uma antiga lenda que, certa vez, um rei chamou o homem mais sábio que conhecia para pedir conselhos.
O soberano se preparava para ser pai e desejava orientações a respeito da educação de seus filhos, uma vez que sabia da importância de seu papel como progenitor na vida dos rebentos.
Dize-me, sábio conselheiro, tu que sempre me ajudaste nas questões mais graves na regência deste reino: como deve agir um pai para criar bons filhos?
Deve agir com extrema severidade, a fim de corrigir e dominar os maus instintos, ou com absoluta benevolência - a fim de manter uma boa relação e destacar as boas tendências deles?
Ao ouvir essas palavras, o ilustre filósofo manteve-se em silêncio, pensando, pensando...
Passados alguns instantes de profunda reflexão, chamou um servo e pediu-lhe que trouxesse dois vasos valiosos de porcelana que decoravam o salão real e que ele sabia estavam entre os preferidos do rei.
Pediu também um balde com água fervente e outro com água gelada, praticamente congelada.
O rei estava achando aquilo muito estranho. Inclusive, começou a ficar um pouco preocupado com a movimentação das peças que eram parte do seu tesouro pessoal.
Com naturalidade, o sábio ordenou a um servo:
Quero que enchas esses dois vasos com a água que acabas de trazer, sendo um com água fervente e o outro com água gelada!
Preparava-se o servo obediente para despejar, como lhe fora ordenado, a água fervente num dos vasos e a gelada no outro, quando o rei, emergindo de sua estupefação, interveio no caso com energia:
Que loucura é essa, ó venerável sábio! Queres destruir estas obras maravilhosas? A água fervente fará, certamente, arrebentar o vaso em que for colocada. A água gelada fará partir-se o outro!
O sábio, calmamente, então tomou de um dos baldes, misturou a água fervente com a gelada e, com a mistura assim obtida, encheu os dois vasos sem perigo algum.
O poderoso monarca e os venerandos mandarins presentes, observaram, atônitos, a atitude singular do filósofo.
ele, porém, indiferente ao assombro que causava, aproximou-se do soberano e assim falou:
Nossos filhos, ó rei, são como o vaso de porcelana. A postura do pai é como a água.
A água fervente da severidade ou a gelada da excessiva benevolência são igualmente desastrosas para a alma das crianças.
Manda, pois, a sabedoria e ensina a prudência que haja um perfeito equilíbrio entre a severidade - com que se pode tolher os maus pendores, corrigir as falhas - e a generosidade, a docilidade - com que se deve tratar e cultivar as qualidades.
*   *   *
Diante do teu filho, frágil de aparência, tem em mente que se trata de um Espírito comprometido com a retaguarda, que recomeça a experiência a penates, e que muito depende de ti.
Nem o excesso de severidade para com ele, nem o acúmulo de receios injustificados, em relação a ele, ou a exagerada soma de aflição por ele.
Fala-lhe de Deus sem cessar e ilumina-lhe a consciência com a flama da fé rutilante, que lhe deve lucilar no íntimo como farol de bênçãos para todas as circunstâncias.
Ensina-lhe a humildade ante a grandeza da vida e o respeito a todos, como valorização preciosa das concessões Divinas.

Redação do Momento Espírita com base em antiga lenda oriental e no
cap.
Deveres dos pais, do livro Leis morais da vida, pelo Espírito Joanna de
Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.

Em 03.04.2012

terça-feira, 3 de abril de 2012

Perda de amores


Perdi meu filho! Perdi minha filha!
Estas são expressões lacrimosas de pais vestidos de dor, pela morte dos seus filhos.
A lógica humana pondera que os pais devam morrer antes dos filhos. Seria a ordem natural das coisas. - Comenta-se.
No entanto, a vida tem suas próprias diretrizes e não segue a lógica que se lhe tenta determinar.
Cada ser tem seu tempo certo de vida. Seu momento de partir.
Cada criatura traz, ao nascer, a programação que estabelece o quantum de anos deva transitar sobre a Terra.
Por isso, inúmeras vezes, partem antes os filhos do que seus pais.
Isso sem se falar das mortes que ocorrem por conta e risco da imprudência, dos desatinos, das inconsequências mundanas.
De toda forma, o  processo de separação pela morte é extremamente doloroso, na Terra.
Acostumados à vestimenta carnal, grosseira, impedidos de ver o mundo invisível, que nos cerca, choramos a ausência dos que nos disseram o grande adeus, na aduana da morte.
Chorando e lamentando, falamos de perda. Mas, como escreveu José Saramago: Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo.
Eis o ponto. Ninguém perde ninguém. Os filhos nos são confiados à guarda pela Divindade. Os pais nos são oferecidos como portos de segurança.
Cada pessoa que nos conquista a afeição pode permanecer conosco um tempo mas, bem poderá ser convidada ao retorno, antes de nós.
Compete-nos, portanto, estarmos preparados a fim de que não detenhamos as lutas porque alguém se foi. Não nos vistamos de crepe porque a morte arrebatou o ser amado do nosso lado.
Sobretudo não utilizemos palavras como perda, pois que o que se verifica é a ausência da presença física.
Os que partem prosseguem nutrindo por nós os mesmos sentimentos.
Se nos amam, envolvem-nos com seus abraços espirituais de forma constante. De onde se encontrem, trabalhando no bem, crescendo no progresso, nos enviam suas mensagens de luz.
Aguardam-nos, a cada noite, o desprendimento do corpo para dialogarem conosco mais intensamente. E nos abençoam as lembranças, fazendo-nos tudo recordar como um delicado sonho, ao despertar.
Alegram-se com nossas conquistas. Fazem-se presentes em nossas festividades e nos enxugam as lágrimas, nos dias de desolação.
Alimentam a nossa saudade com suas sutis presenças e, vez ou outra, espalham o perfume do seu amor, causando-nos doces emoções.
Incentivam-nos nas lutas de cada dia e aguardam, paciente e amorosamente, que os anos transcorram a fim de que se processe o reencontro.
Eles nos disseram Até logo mais, não Adeus.
Afetos ausentes. Não perdidos, nem desaparecidos.
Pensemos nisso e reformulemos nossos pensamentos e palavras.

Redação do Momento Espírita.
Em 02.04.2012.

sábado, 31 de março de 2012

Um tanto mais


Você guarda a impressão de haver esgotado o estoque de todos os seus recursos, em determinada tarefa de amor, mas se você perseverar um tanto mais no devotamento, ninguém pode prever os louros de luz que brilharão em seu passo.
Você está doente e pretende obter licenças de longo prazo, mas se você continuar um tanto mais em serviço, ninguém pode prever o tesouro de forças novas que lhe aparecerá no caminho.
Você encontrou imensas dificuldades no exercício das boas obras e anseia fugir delas, mas se você persistir um tanto mais na construção da beneficência, ninguém pode prever o triunfo que as suas horas recolherão, nas fontes vivas da caridade.
Você acredita que não pode tolerar o amigo importuno, o filho teimoso, o irmão inconsciente, a esposa inconstante ou o marido insensato, mas se você suportar um tanto mais a luta em família, ninguém pode prever a extensão do júbilo porvindouro em seu ninho doméstico.
Você supõe que o azar é o seu clima e chora na bica do desespero, mas se você cultivar um tanto mais de fidelidade às próprias obrigações, ninguém pode prever a amplitude do seu êxito, no amanhã que vem perto.
Você experimenta enorme cansaço e não quer dar ouvidos ao companheiro de longa conversa, mas se você esticar um tanto mais o seu sacrifício, ninguém pode prever os prodígios da colheita de bênçãos que surgirão dos seus breves minutos de gentileza.
Observe que você mesmo para realizar isso ou aquilo, exige incessantemente dos semelhantes um tanto mais de bondade, um tanto mais de cooperação, um tanto mais de tempo, um tanto mais de carinho...
O gênio é a paciência que não se acaba.
É justo que você deseje um tanto mais de felicidade, mas para isso, é necessário que você ajude um tanto mais a felicidade dos outros.
Repare você as lições da vida e compreenderá que a vitória no bem é sempre trabalhar conforme o dever e servir... um tanto mais.
*   *   *
O mestre da antiguidade, Confúcio, elaborando ideias a respeito da perseverança, afirma:
Se há pessoas que não estudam ou que, se estudam, não aproveitam, elas que não se desencorajem e não desistam.
Se há pessoas que não interrogam os homens instruídos para esclarecer as suas dúvidas ou o que ignoram, ou que, mesmo interrogando-os, não conseguem ficar mais instruídas, elas que não se desencorajem e não desistam.
Se há pessoas que não meditam ou que, mesmo que meditem, não conseguem adquirir um conhecimento claro do princípio do bem, elas que não se desencorajem e não desistam.
Se há pessoas que não distinguem o bem do mal ou que, mesmo que distingam, não têm uma percepção clara e nítida, elas que não se desencorajem e não desistam.
Se há pessoas que não praticam o bem ou que, mesmo que o pratiquem, não podem aplicar nisso todas as suas forças, elas que não se desencorajem e não desistam.
O que outros fariam numa só vez, elas o farão em dez. O que outros fariam em cem vezes, elas o farão em mil, porque aquele que seguir verdadeiramente esta regra da perseverança, por mais ignorante que seja, tornar-se-á uma pessoa esclarecida; por mais fraco que seja, tornar-se-á necessariamente forte.

Redação do Momento Espírita com base no cap.71,  do livro
Ideal espírita, pelo Espírito André Luiz, psicografia de
Francisco Cândido Xavier, ed. Cec e do texto
A perseverança,
  do livro
A sabedoria de Confúcio, de Confúcio, ed. José
Olympio.
Em 29.03.2012.
 

Se eu tivesse...



Se eu tivesse falado do amor que sentia, se eu tivesse perdoado, aconselhado, se eu tivesse me calado...
Estas são afirmativas que costumam fazer parte dos nossos pensamentos em alguns momentos da vida.
Diante da perda de um ente querido ou no momento em que sabemos estar próxima a nossa partida para a Pátria Espiritual, a sensação de que se poderia ter feito muito mais, é causa de uma das grandes dores do ser humano.
Pensamos que poderíamos ter sido mais cuidadosos nos relacionamentos com os amigos e amores, ter nos doado mais ao próximo, realizado aquele sonho... ou simplesmente poderíamos ter amado mais.
O arrependimento pelo bem que não foi feito é doloroso.
Conveniente seria se vivêssemos a vida sem precisar de um dia empregar essas frases, que demonstram que algo poderia ter sido feito e que agora, não mais nos é possível fazê-lo.
Muitas vezes justificamos o abandono de um objetivo por não termos as condições que julgamos ideais para cumpri-lo.
Dizemos a nós mesmos que não temos o dinheiro ou o tempo suficiente, o poder ou a autoridade, que não temos coragem ou disposição, que somos velhos demais ou jovens demais ou que temos saúde de menos.
Essas afirmativas apenas demonstram o nosso desânimo frente às situações que a vida nos apresenta.
Colocamo-nos facilmente na condição de depender de algo ou de alguém para agir, quando toda ação depende exclusivamente da nossa própria vontade.
*  *  *
Tenhamos coragem e entusiasmo para fazer o que consideramos correto, para agir de acordo com o que a nossa própria consciência nos orienta e para fazer o que for preciso em defesa dos nossos sonhos.
Obstáculos sempre serão encontrados e dificuldades pessoais todos nós as temos pois fazem parte do estágio evolutivo em que nos encontramos.
Com coragem, paciência e disciplina seremos capazes de vencer as dificuldades.
Quando nos mantemos ligados a Deus, sentindo-O em nosso íntimo, qualquer objetivo que nos propusermos a alcançar não nos parecerá distante e encontraremos a força necessária.
Seja a realização de uma grande obra ou apenas um pedido sincero de perdão a alguém que estimamos, se não tivermos coragem, acabaremos por deixar esquecida a nossa vontade.
Diante da história de nossas vidas, olhemos para trás para perceber o quanto já aprendemos, o quanto já crescemos.
E, no caso de constatar que não fizemos as melhores escolhas ao longo da nossa jornada, que usamos mal a liberdade que Deus nos concedeu para escolher os próprios caminhos, não deixemos o desânimo se instalar.
Sempre há uma boa lição a ser retirada das experiências vividas.
É hora de caminhar com fé e entusiasmo no coração. Hora de fazer renascer a esperança, deixar germinar a coragem e enxergar que somos capazes de realizar esse ou aquele feito.
A coragem nos impulsiona a agir.
Vivamos com a sensação de estar fazendo o melhor que pudermos para que, um dia, quando chegar a nossa hora de partir, não precisemos dizer para nós mesmos: Se eu tivesse...

Redação do Momento Espírita.
Em 28.03.2012.