domingo, 10 de novembro de 2013

Um aparente adeus




O dia estava alegre e divertido. Os familiares estavam reunidos na chácara dos avós para um almoço especial. Muita conversa, risada, carinho e felicidade.
As crianças faziam algazarra. Os avós, orgulhosos, as contemplavam, alegres pela presença tão estimada dos filhos e netos.
Após deliciosa refeição, as crianças, acompanhadas por alguns adultos, reuniram-se em torno do lago existente na propriedade, a fim de aproveitarem a tarde.
Junto delas estava Raul, que contava apenas dois anos.
Por breve instante de distração de todos que ali estavam, ele se afastou do grupo e acabou por parar perto da piscina.
Movido pela curiosidade, o menino aproximou-se da água e acabou nela caindo.
O pai, assim que percebeu o fato, tirou-o da piscina e fez todas as manobras de emergência para desafogá-lo, sem muito sucesso.
Mais do que depressa, levaram-no para o hospital, onde foi prontamente atendido. Entretanto, foi com pesar que o médico responsável comunicou à família que o pequeno não havia sobrevivido ao afogamento.
Naquele momento, os pais de Raul perderam o chão. Como podia aquele menino que, há apenas alguns instantes estava brincando e alegrando suas vidas, estar morto?
A dor era grande demais. Os avós, tios e primos estavam desnorteados. Não conseguiam acreditar na triste realidade na qual estavam imersos.
Onde há pouco existira alegria, risos e diversão, agora, havia tristeza, lágrimas e dor.
Como entender tal fenômeno que, não mais que de repente, leva para longe de nós aqueles a quem amamos, a quem devotamos todos os nossos melhores sentimentos?
Como entender que aquele que estava conosco, agora partiu, nos privando de sua companhia, nos privando de seus abraços e de seu carinho?
Estranho seria pensar que Deus, infinitamente justo e bom, nos uniria em famílias, com a finalidade de nos amarmos e depois ceifaria tal sentimento com um ponto final, chamado morte.
A morte, no entanto, não é uma despedida absoluta e, sim, relativa.
A vida do homem é como o sol das regiões polares durante o estio. Desce devagar, baixa, vai enfraquecendo, parece desaparecer um instante por baixo do horizonte. É o fim, na aparência.
Mas, logo depois, torna a elevar-se, para novamente descrever sua órbita imensa no céu.
Por mais pareça que a escuridão será eterna, o sol sempre nasce outra vez, brindando-nos com sua luz radiante.
No momento oportuno, as sombras da aparente perda e da saudade darão espaço à luz do reencontro, pois o corpo, esse sim perece, mas o Espírito é viajor incessante da eternidade.
E, enquanto tal reencontro não ocorre, cultivemos os laços de amor, que permitem a sintonia com o ser amado e a certeza de que o tão esperado abraço ocorrerá.
As lágrimas, nesse nobre momento, serão expressões sinceras de duas almas que muito ansiavam por esse reencontro.
*   *   *
Lembremos: a morte não é um adeus. Antes, é um até breve!

Redação do Momento Espírita, com pensamentos
extraídos do cap. 10, do livro
O problema do ser, do
destino e da dor, de Léon Denis, ed. FEB.
Em 31.10.2013.


sábado, 26 de outubro de 2013

O que temos


Na visão, tantas vezes pessimista, do homem, ele se esquece de que tem multiplicadas razões para ser infinitamente grato a Deus.
Foi certamente reflexionando a respeito das tantas bênçãos de que dispõe, que alguém elaborou uma prece, mais ou menos nos seguintes termos:
Eu agradeço a Deus... Pelos impostos que eu pago, porque isso significa que tenho um emprego... Muitos desejariam estar no meu lugar e não se importariam nem um pouco em ter tal desconto em seu salário, porque teriam um salário...
Agradeço a Deus pela confusão que eu tenho que limpar após uma festa, porque isso significa que estive rodeado de amigos que, mesmo num mundo onde tantos afirmam não ter tempo, eles têm tempo para me visitar no meu aniversário, na minha formatura, na comemoração de um sucesso na minha carreira ou simplesmente em um dia comum qualquer.
Agradeço pela minha sombra que me segue, porque isso significa que ando ao sol...
Pelas paredes que precisam ser pintadas, pela lâmpada que precisa ser trocada, pela torneira que vaza, pelo ladrilho quebrado, porque isso significa que ainda tenho minha moradia...
Por todas as críticas que faço às coisas que não me satisfazem, porque isso significa que tenho possibilidade de análise e discernimento, tanto quanto vivo em um país onde gozo da liberdade de expressão...
Pelo único lugar para estacionar que encontro bem ao fundo do estacionamento, porque isso significa que, além de ter a felicidade de poder andar, tenho a ventura de ter um meio de transporte...
Pela música que toca desafinadamente atrás de mim, porque isso significa que posso ouvir...
Pelo cansaço e os músculos doloridos que eu sinto ao final do dia, porque isso significa que tenho saúde para trabalhar...
Pelo despertador que toca às primeiras horas da manhã, quando ainda me encontro sonolento e gostaria de permanecer dormindo mais um pouco, porque isso quer dizer que mereci a bênção de acordar no corpo outra vez.
Finalmente, por todos os e-mails que recebo diariamente, o que significa que tenho amigos que pensam em mim, mesmo que por poucos minutos, diante de uma tela de computador...
Por fim... Obrigado meu Deus pela minha vida cheia de problemas, porque eles me farão ter certeza de que eu sou capaz de resolver cada um e, da melhor maneira.



* * *
Diante do prato de comida que tenhamos à mesa, não reclamemos da sua singeleza ou da reprise de todos os dias. Lembremos que, bem próximo de nós, alguém desejaria intensamente ter um pedaço de pão para saciar a fome.
Diante da ausência do refrigerante ou suco de nossa predileção no restaurante em que nos encontremos, não reclamemos. Pensemos em quantos, no mundo, morrem por ausência de um pouco de água que lhes mantenha a vida.
Diante do congestionamento de trânsito que nos detenha na rua ou na rodovia, não reclamemos. Pensemos em quantos gostariam de deter o passo um pouco, para descansar, mas não o podem fazer, porque necessitam vencer grandes distâncias a pé, para chegar ao posto de socorro mais próximo.
Enfim, diante da ausência de qualquer coisa que desejemos, pensemos, antes de reclamar, em tudo de que já dispomos e que nos beneficia com conforto, alegrias e sucessos.
E, em nome da caridade, recordemo-nos de orar por todos aqueles que não desfrutam dessas mesmas oportunidades.

Redação do Momento Espírita, com base
em texto de autoria desconhecida.
Em 23.10.2013.

sábado, 21 de setembro de 2013

ORAÇÃO NOSSA



Senhor,  ensina-nos:
a orar sem esquecer o trabalho;
a dar sem olhar a quem;
a servir sem perguntar até quando;
a sofrer sem magoar seja a quem for;
a progredir sem perder a simplicidade;
a semear o bem sem pensar nos resultados;
a desculpar sem condições;
a marchar para a frente sem contar os obstáculos;
a ver sem malícia;
a escutar sem corromper os assuntos;
a falar sem ferir;
a compreender o próximo sem exigir entendimento;
a respeitar os semelhantes sem reclamar consideração;
a dar o melhor de nos, além da execução do próprio dever, sem cobrar taxas de reconhecimento;
Senhor,  fortalece em nós a paciência para com as dificuldades dos outros, assim como precisamos da paciência dos outros para com as nossas dificuldades;
Ajuda-nos, sobretudo, a reconhecer que a nossa felicidade mais alta será invariavelmente, aquela de cumprir-Te os desígnios onde a como queiras, hoje, agora e sempre.

                                                                                Emmanuel
   
Francisco Cândido Xavier
À Luz da Oração/Casa Editora-O Clarim

Seja um bom filho



Muito se fala da grande importância dos pais na vida de todos nós. A educação que recebemos, as referências que temos deles determinam nosso futuro.
É certamente das mais belas missões que encontramos, na face da Terra, a paternidade e a maternidade.
Mas, cabe também lembrarmos o papel dos filhos na construção de um lar feliz, harmônico.
Sim, não só os pais têm deveres na família. Por isso, hoje, falaremos dos deveres dos filhos.
*   *   *
Respeito.
Embora muitos de nós possamos não nos dar bem com os pais, embora possamos ter diferenças, pensamentos em desalinho, não podemos deixar de ter o mais profundo respeito por quem nos aceitou como filhos.
Talvez digamos que não temos os pais que desejaríamos ter. Contudo, tenhamos certeza de que temos os pais que necessitamos para atender às nossas dificuldades morais.
Nascemos no lar que precisamos nascer. Não há acaso na reencarnação.
Respeitemos, assim, quem sacrificou boa parte da vida pelo nosso bem, pelo nosso sustento, pelo nosso sucesso, mesmo que tenham falhado e não atendido nossas expectativas.
São Espíritos em evolução como nós, que aceitaram de Deus uma missão seríssima e bela.
Não os desmereçamos, não os menosprezemos, por mais difíceis que sejam. Eles fizeram ou fazem o melhor ao seu alcance.
Ainda quando alguma mágoa teimar em se instalar em nosso coração, reflitamos sobre as possíveis dificuldades que portaram, dos tormentos que os assinalaram na estrada da paternidade.
Não é nada fácil ser pai, ser mãe. Julguemos sempre com o coração repleto de indulgência.
Guardemos as boas memórias, os exemplos felizes...
*   *   *
Cooperação.
É dever do filho a cooperação no lar.
Com tristeza vemos um grande número de lares onde os pais são servos, escravos dos filhos.
Esses crescem e se encostam no sustento dos pais, sem dar contribuição alguma para a manutenção do ambiente doméstico.
Nossa casa é uma empresa que, para funcionar bem, precisa da ajuda de todos. Todos têm seus papéis, suas funções e todos precisam colaborar.
Ajudar nas arrumações, na preparação de refeições; auxílio no cuidado dos irmãos menores, pequenos serviços de reparos aqui e ali – todos temos condição de fazer, obedecendo, é claro, a idade e capacidade de cada um.
Não pensemos que os pais têm obrigação de nos sustentar ad eternum ou enquanto morarmos sob um mesmo teto.
Não, o filho que já trabalha e tem seu sustento precisa utilizar-se de seus ganhos para aliviar um pouco a sobrecarga financeira dos pais.
Todos podemos colaborar e devemos ser incentivados a esse trabalho em equipe, desde cedo.
*   *   *
Amemos e respeitemos em nossos genitores a humana manifestação da Paternidade Divina.
Quando fortes, sejamos para eles a companhia e a jovialidade: quando fracos, a proteção e o socorro.
Enquanto sadios, presenteemos a eles com a alegria e a consideração; se enfermos, com a assistência dedicada e a sustentação precisa. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Deveres dos
filhos, do livro S.O.S. família, pelo Espírito Joanna de Ângelis,
psicografia de Divaldo Franco, ed. LEAL e no cap. 6, do livro
Ações
corajosas para viver em paz, pelo Espírito Benedita Maria, psicografia
Em 3.9.2013.


Pessoas doces




Você já percebeu como é fato comum, corriqueiro mesmo, taxarmos algumas pessoas como doces?
É do linguajar coloquial dizermos que fulano é um doce de pessoa ou, ainda, que beltrano é uma doçura.
Se analisarmos literalmente a expressão, nos parece um tanto estranho que alguém possa nos causar a impressão de ser doce.
Porém, talvez mais surpreendente seja o fato de que, ao ouvirmos essa colocação a respeito dessa ou daquela pessoa, muitas vezes concordamos e logo entendemos a lógica de tal colocação.
Mas, de onde nasce a doçura de alguém? Como nos tornamos doces ou como provocamos essa impressão de doçura naqueles com quem nos relacionamos?
Na verdade, a doçura é a maneira simples, popular, descontraída, de avaliarmos a delicadeza do comportamento, a pureza do sentimento ou mesmo a preocupação da ação em relação ao próximo.
Pessoas doces são aquelas para as quais a preocupação com o semelhante, com o seu bem-estar, com seus sentimentos e dificuldades sempre estão presentes.
A doçura está, muitas vezes, no silêncio de um olhar, na expressividade de um toque, na singeleza de um breve bilhete cheio de significado.
A doçura não é ação premeditada, muito menos roteiro a ser seguido. É apenas o reflexo dos valores da alma, que se externalizam em ações de bondade e carinho para com o próximo.
Pessoas doces simplesmente são. Desconhecem, quase sempre, que suas atitudes conseguem adoçar vidas, alegrar dias, suavizar dores.
Oferecem ao próximo aquilo que já conquistaram, presenteando todos com quem se relacionam, com sua afabilidade e doçura.
Para aqueles de nós que ainda não conquistamos tal virtude, servem-nos elas de exemplo e referência no trato pessoal.
Não raro expressamos nosso azedume, ou nos tornamos espinhos no trato com o próximo e, inúmeras outras vezes, deixamos apenas um sabor amargo junto àqueles com quem nos relacionamos.
Porém, mudar os sabores com que temperamos nossos dias é uma questão de escolha e decisão pessoal.
Coloquemo-nos no lugar daquele ao qual dirigimos palavras que destilam fel.
Imaginemos o sentimento de alguém, após ter ouvido de nós palavras duras e amargas.
Por certo, não desejaríamos receber tal carga de emotividade negativa.
Então, por coerência, não devemos ser portadores delas.
*   *   *
Se admiramos a doçura daqueles que nos fazem os dias mais leves e alegres, busquemos modificar o paladar de nossas ações.
Exercitemos a gentileza, a indulgência, a benevolência e o perdão para com o próximo.
Busquemos ser o apoio e a compreensão, aceitando o outro, com as dificuldades naturais que ele ainda traz no seu mundo íntimo.
São esses sentimentos que, no exercício do relacionamento social, provocam doces impressões naquele que conosco convive.
E assim, compreendendo e aceitando-nos uns aos outros, os dias serão mais doces e suaves para todos nós.
 Redação do Momento Espírita.
Em 6.9.2013.



Recado de Deus




Aqueles que dispõem da visão perfeita, com certeza não podem avaliar a preciosidade que é ter noção de espaço, distâncias, cores - tudo o que os olhos oferecem todos os dias.
Por isso, ouvir o depoimento de uma senhora novaiorquina, cega, que mora sozinha, é oportuno.
Durante todo o inverno ela ficou dentro de casa a maior parte do tempo. Naquele dia de final de abril, a friagem amenizou e ela sentiu o perfume forte e estimulante da primavera.
Seus ouvidos escutaram o canto insistente de um passarinho do lado de fora da janela. Era como se a pequena ave a estivesse convidando a sair de casa.
Preparou-se, tomou a bengala e saiu. Voltou o rosto para o sol, deu-lhe um sorriso de boas-vindas, agradecida pelo seu calor e a promessa do verão.
Caminhando tranquila pela rua sem saída, escutou a voz da vizinha a lhe perguntar se não desejava uma carona.
Não, respondeu ela. As minhas pernas descansaram o inverno inteiro. As juntas estão precisando ser lubrificadas e um passeio a pé me fará bem.
Ao chegar na esquina ela esperou, como era seu costume, que alguém se aproximasse e permitisse que ela o acompanhasse, quando o sinal ficasse verde.
Os segundos pareceram uma eternidade. E ninguém aparecia. Nenhuma oferta de ajuda. Ela podia ouvir muito bem o ruído nervoso dos carros passando com rapidez, como se tivessem que conduzir os seus ocupantes a algum lugar, muito, muito depressa.
Por um momento se sentiu só, desprotegida. Resolveu cantarolar uma melodia. Do fundo da memória, recordou-se de uma canção de boas-vindas à primavera, que havia aprendido na escola quando era criança.
De repente, ela ouviu uma voz masculina forte e bem modulada.
Você me parece um ser humano muito alegre. Posso ter o prazer de sua companhia para atravessar a rua?
Ela acenou afirmativamente com a cabeça, sorriu e murmurou ao mesmo tempo um sim.
Delicadamente, ele segurou o braço dela. Enquanto atravessavam devagar, conversaram sobre o tempo e como era bom, afinal, estar vivo num dia daqueles.
Como andavam no mesmo passo, era difícil se saber quem era o guia e quem era o guiado. Mal haviam chegado ao outro lado da rua, ouviram as buzinas impacientes dos automóveis. Devia ser a mudança de sinal.
Ela se voltou para o cavalheiro, abriu a boca para agradecer pela ajuda e pela companhia.
Antes que pudesse dizer uma palavra, ele já estava falando:
Não sei se você percebe como é gratificante encontrar uma pessoa tão bem disposta para acompanhar um cego como eu, na travessia de uma rua.
*   *   *
Às vezes, quando nos sentimos sós no Universo, Deus nos manda uma imagem semelhante para diminuir nossa sensação de isolamento e disparidade.
É sempre reconfortante conseguir perceber que, sejam quais forem as dificuldades e limitações que estejamos atravessando, sobre a Terra, existem outras tantas dezenas ou centenas de criaturas que, como nós, passam por situações semelhantes.
E, o mais importante, lutam e vencem. É a mensagem viva de bom ânimo da Divindade para as nossas próprias vidas.

Redação do Momento Espírita, com base no livro
Pequenos milagres, de Yitta Halberstam e Judith Leventhal,
ed. Sextante.
Em 5.9.2013.


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O benefício dos sonhos




Ao nos enviar ao planeta Terra, a fim de que, ingressando na carne, trilhássemos a via do progresso, até alcançarmos as estrelas, Deus foi extremamente sábio e bom.
Profundamente conhecedor dos Seus filhos, estabeleceu que, a cada noite, o repouso nos fosse exigido e mergulhássemos no sono.
O sono é imprescindível para o equilíbrio da vida orgânica. A sua privação estabelece problemas de variada ordem: fadiga, diminuição dos reflexos, sonolência, envelhecimento precoce, queda da imunidade, dificuldade de concentração e problemas de memória.
Importante para o refazimento orgânico, o restabelecimento de energias e o reequilíbrio das funções que acionam o corpo.
Mas, algo especial acontece, quando dormimos. O corpo adormece e, nesse momento, ocorre a emancipação da alma.
Ou seja, afrouxam-se os liames que atam o Espírito à matéria, e ele se desprende, parcialmente, rumando para os lugares de sua predileção.
Quando retorna ao corpo, as lembranças que o Espírito imprima ao cérebro físico, se constitui no que denominamos sonho.
Durante o sono, podemos viajar com os seres amados, que reencontramos além da cortina carnal.
Poderemos ir a lugares conhecidos, estabelecendo essa admirável comunicação entre os que nos encontramos estagiando na carne e os que se encontram libertos do corpo físico.
Quando temos aspirações nobres, nossas horas de sono podem ser aproveitadas para engrandecimento dos ideais, amadurecimento dessas aspirações, enriquecimento dos planos do bem.
Também podemos receber aconselhamentos de Espíritos amigos.
João Carlos Martins, o famoso pianista e maestro, conta uma singular experiência. Numa fase em que precisara abandonar o piano, sua paixão, desde menino, teve um encontro especial durante o sono.
Um querido amigo, o maestro Eleazar de Carvalho, desencarnado no ano de 1996, lhe disse:
Venha estudar regência e, então, você vai poder recomeçar uma nova vida.
Não foi preciso nada mais. João Carlos decidiu que iria estudar regência. E, em plena madrugada, traçou planos: a regência seria uma missão de vida.
Seria seu prazer pessoal, mas também iniciaria uma cruzada pela valorização dos músicos profissionais.
Mais ainda: atuaria a favor da inclusão social, trabalhando com a formação musical de jovens carentes.
Era o final de 2003. Ele tinha sessenta e três anos. E começou, no dia seguinte, uma nova vida.
Graças a isso, nasceu a Orquestra Bachiana Filarmônica, única no Brasil inteiramente mantida pela iniciativa privada e pela bilheteria dos concertos.
Foi a volta do amante da arte aos palcos. Sua grande dedicação e esforço lhe permitiram que, seis meses depois, estivesse à frente da English Chamber Orquestra, em Londres, gravando os seis concertos de Brandemburgo, de Bach.
João Carlos não conseguia virar as páginas, nem segurar a batuta direito. Memorizou toda a obra para o sucesso da gravação.
*   *   *
Sonhos... Como é grande o amor de Deus permitindo esses belos encontros espirituais.

Redação do Momento Espírita, com dados extraídos do livro A
saga das mãos, de João Carlos Martins e Luciano Nassar, ed.
Campus/Elsevier.
Em 7.9.2013.


Mantendo a alegria de viver




Eles sobreviveram a duas guerras mundiais. Assistiram aos cenários de mais de uma revolução. Ouviram as notícias do erguimento do muro de Berlim e assistiram à sua derrubada.
Tiveram as noites da infância iluminadas por velas e lampiões e aderiram, de forma rápida, à invenção de Thomas Alva Edison.
Viram os tostões darem lugar a uma nova moeda, que modificou sua denominação e seu valor várias vezes.
Viajaram em lombo de mulas, carroças, carruagens e se surpreenderam com o Ford Bigode de Henry Ford.
Lembram de Yuri Gagarin, o russo solitário no espaço, e da emoção da chegada do homem à lua.
Do radinho simples, que era o elo de comunicação com o mundo, receberam a televisão como a grande novidade e, ao mesmo tempo, uma companhia para as horas solitárias.
Das rodas de amigos, em torno do mate, do chimarrão, do café da tarde ou do chá das cinco, migraram para o teclado do computador, até horas mortas da madrugada.
Alguns os veem como quem já viveu tudo e nada mais aguardam. Contudo, essas pessoas que trazem o rosto coberto de rugas, que são depositárias da história e têm muitos causos para contar, são uma lição viva de alegria de viver.
Eles mantêm a vontade de sorrir, acreditando que o bom humor faz bem para o corpo e para a alma. Encaram a vida de frente e enfrentam os problemas que surgem.
Desejam viver, embora alguns já tenham ultrapassado o centenário. Num mundo onde a juventude é sinônimo de beleza, eles trazem brilho no olhar.
As rugas, que tecem arabescos no rosto, são as marcas de uma vida bem vivida. Cada uma delas conta uma história de dor, de alegria, de superação.
Uma história de quem sofreu o devastar dos ventos da adversidade, mas soube se reerguer depois da tormenta.
História de quem esteve inúmeras vezes nos aeroportos da vida, recebendo novas gerações e despedindo-se de amores, de amigos, de companheiros de jornada.
Partidas e chegadas. E foram tantas...
Uns se apresentam com a memória mais ágil que outros. Alguns são portadores de certas limitações físicas. De um modo geral, apresentam dores nas articulações ou problemas de audição, de visão.
Mas não permitem que se instale a depressão em seu estado de espírito. Agasalham entusiasmo pela vida.
E tecem planos para os dias futuros.
O pai do conhecido maestro João Carlos Martins iniciou sua vida como escritor aos oitenta e seis anos.
Legou à posteridade sete livros. O último livro que escreveu, aos cento e um anos, causou tal impacto que o Guinness book o registrou na condição de escritor que iniciou a carreira com a idade mais avançada.
Desencarnou aos cento e dois anos.
*   *   *
Esses idosos de sorriso aberto, de esperanças ainda em flor, nos são exemplos.
Esses idosos que não se permitem o staccato pelas décadas acumuladas nos ombros, nos dizem que somente é infeliz quem maldiz a própria idade e a culpa por todos os seus fracassos.
Eles nos dizem que a vida é um bem extraordinário e deve ser vivida em toda sua essência e substância. Deve ser sorvida, até a última gota, até o último amanhecer...
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita.
Em 2.9.2013.